Os 340 anos de Johann Sebastian Bach

Johann Sebastian Bach(31 de março de 1685 –28 de julho de 1750)

No dia 31 de março de 2025, Johann Sebastian Bach completaria 340 anos. E se ainda nos perguntamos por que falar de um compositor tão antigo, a resposta é simples: porque poucos nomes na história da música continuam tão vivos.

Bach não inventou a música que conhecemos hoje, mas a reorganizou de forma tão decisiva que sua obra é como uma espinha dorsal da tradição ocidental. Em sua música, tudo parece surpreendente: o encadeamento harmônico, o entrelaçamento das vozes, a arquitetura das formas. Mas essa aparente perfeição não é fria,  nela pulsa uma vitalidade rara, que emociona e desafia intérpretes e ouvintes até os dias de  hoje.

Como artista do  período barroco, Bach era um trabalhador incansável. Organista, professor, maestro e copista, tudo isso em meio a prazos apertados e critérios práticos. Sua produção é monumental: mais de mil obras catalogadas, incluindo cantatas, missas, paixões, oratórios, concertos, música de câmara e uma extensa literatura para instrumentos de teclas. Mas, para além da quantidade, o que impressiona é a coerência estética e o rigor técnico.

Bach escreveu uma música funcional: para cultos, para exames, para benefícios específicos. Mas, de alguma forma, ele extraiu a beleza universal dessas tarefas diárias. A música de Bach funciona como um mecanismo preciso, onde cada parte tem sua função, mas ao mesmo tempo existe liberdade, invenção e expressão. Um paradoxo que o torna único.

Uma das obras que melhor resume essa genialidade é “O Cravo Bem Temperado” , escrito em duas partes, sendo cada uma com 24 pares de prelúdios e fugas, uma para cada tonalidade maior e menor. Trata-se de um verdadeiro laboratório de formas, texturas e afetos. Não à toa, Chopin estudou seus prelúdios todos os dias.

Fuga em lá menor do segundo Livro de Das Wohltemperierte Clavier (manuscrito)

O compositor Adam Schoenberg disse:

“Com Bach, nada se perdeu: tudo é desenvolvimento”.

 O pianista Glenn Gould afirmou:

“a obra de Bach é a gramática da música ocidental”

Órgão Barroco de 1650 Jörg Hansen, diretor do Museu  “Casa de Bach” Turíngia, no leste da Alemanha

O termo cravo, no Dicionário Grove, é descrito como: “instrumento de teclado com cordas, diferenciado do clavicórdio e do piano, pelo fato de suas cordas serem pinçadas e não percutidas”. O cravo é um instrumento de teclas anterior ao piano.  

Ao compor O Cravo Bem Temperado, Bach usou o titulo: Das Wohltemperierte Clavier. Talvez, o título alemão, poderia ser mais preciso se traduzido como O teclado bem temperado. Uma obra prima que fala diretamente ao ouvinte: basta ouvir.

Nesta data simbólica, sugerimos a audição do Prelúdio e Fuga nº 17 em Lá Bemol Maior, BWV 862, do Livro 1 do “O Cravo Bem Temperado’”.

Observe que o prelúdio tem uma leveza luminosa, quase pastoril. Já a fuga é mais recolhida, com ressonâncias introspectivas, como se Bach se voltasse para dentro, sem deixar de olhar o mundo com ternura.

Ouvir Bach aos 340 anos de seu nascimento não é apenas um exercício de memória. É um gesto de atualidade: porque sua música nos reconecta ao essencial — à escuta, à ordem, à complexidade, à emoção.

Como escreveu o regente John Eliot Gardiner,

“Bach não precisa ser entendido. Ele precisa ser ouvido”.

No vídeo abaixo, Prelúdio e Fuga nº 17 em Lá Bemol Maior, BWV 862, do Livro 1 do  “O Cravo Bem Temperado” interpretadopelo pianista András Schiff.

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