Um  interprete barroco no século XXI

Roberto de Regina

Roberto de Regina (1927)

Roberto Miguel de Barros Regina, nascido em 12 de janeiro de 1927, no Rio de Janeiro, emergiu como uma figura singular na paisagem musical brasileira, não apenas como um virtuoso cravista, mas também como um médico anestesista e artesão talentoso. Seu interesse pelo cravo, um instrumento que remonta ao período barroco, levou-o a uma jornada de autodescoberta e inovação.

Além de suas conquistas como músico, Regina encontrou uma paixão na arte da construção de cravos. Influenciado por sua profunda imersão na música barroca, ele embarcou na missão de trazer à vida o som autêntico e a estética do período. Sua oficina particular, situada em seu sítio em Guaratiba, tornou-se um local de criação e  experimentação.

Regina dedicou-se a dominar não apenas a execução do cravo, mas também a intricada arte de sua construção. Sua busca pela perfeição levou-o a aprender com os mestres artesãos em Boston, onde absorveu os segredos e técnicas por trás da fabricação desses instrumentos históricos. Ao retornar ao Brasil, ele aplicou esse conhecimento em sua própria oficina, criando cravos que não apenas ressoavam com autenticidade histórica, mas também exibiam a marca única de sua habilidade artesanal.

O Cravo

A demanda por seus cravos artesanais logo ultrapassou as fronteiras do Brasil, ganhando reconhecimento internacional. Sua busca pela excelência e seu compromisso com a autenticidade musical renderam-lhe uma reputação como um dos principais construtores de cravos da época.

No entanto, seu amor pela música não se limitou à fabricação de instrumentos. Regina continuou a se apresentar e a compartilhar sua paixão pelo cravo através de recitais íntimos em sua Capela Magdalena, preservando o ambiente e a autenticidade das apresentações barrocas.

Sua vida e obra foram imortalizadas em um livro intitulado “Memórias de um Sargento de Malícias”, uma paráfrase do título de um romance de Manuel Antônio de Almeida. Este livro, além de suas experiências de vida, inclui um DVD – “Farsa Madrigalesca com música espanhola da Renascença”, revelando sua irreverência e seu profundo conhecimento musical.

Interior da Capela Magdalena

Além disso, Roberto de Regina também se destacou por suas recepções residenciais temáticas, realizadas em sua casa no Rio de Janeiro. Esses eventos oferecem aos convidados uma experiência sensorial única, combinando música, culinária e cultura em uma atmosfera autêntica e acolhedora. Ao compartilhar sua paixão pela música e pelo cravo, Regina continua a inspirar e encantar aqueles que têm o privilégio de conhecer sua arte e sua hospitalidade.

Mesmo aos 97 anos, Regina, continua a promover visitas ao seu templo particular. Seu sítio em Guaratiba oferece duas modalidades de visitação: Visita a Capela, totalmente pintada por ele, seguida de uma breve apresentação de cravo e um tour pelo museu, ou, uma visita mais completa com a apresentação de um concerto, de aproximadamente 70 minutos, seguido de uma refeição e visita ao museu, sempre acompanhados do próprio maestro Roberto de Regina.

Mesmo aos 97 anos, Regina, continua a promover visitas ao seu templo particular. Seu sítio em Guaratiba oferece duas modalidades de visitação: Visita a Capela, totalmente pintada por ele, seguida de uma breve apresentação de cravo e um tour pelo museu, ou, uma visita mais completa com a apresentação de um concerto, de aproximadamente 70 minutos, seguido de uma refeição e visita ao museu, sempre acompanhados do próprio maestro Roberto de Regina.

Mesmo aos 97 anos, Regina, continua a promover visitas ao seu templo particular. Seu sítio em Guaratiba oferece duas modalidades de visitação: Visita a Capela, totalmente pintada por ele, seguida de uma breve apresentação de cravo e um tour pelo museu, ou, uma visita mais completa com a apresentação de um concerto, de aproximadamente 70 minutos, seguido de uma refeição e visita ao museu, sempre acompanhados do próprio maestro Roberto de Regina.

Mesmo aos 97 anos, Regina, continua a promover visitas ao seu templo particular. Seu sítio em Guaratiba oferece duas modalidades de visitação: Visita a Capela, totalmente pintada por ele, seguida de uma breve apresentação de cravo e um tour pelo museu, ou, uma visita mais completa com a apresentação de um concerto, de aproximadamente 70 minutos, seguido de uma refeição e visita ao museu, sempre acompanhados do próprio maestro Roberto de Regina.

Ouviremos Roberto de Regina interpretando Minuet do compositor francês Jean-Philippe Rameau (1683 – 1764).

Observe Roberto vestido a caráter, tocando em um instrumento de época, levando o publico a vivenciar de forma sensorial a era barroca.

A grande dama do samba

o legado de Dona Ivone Lara

Ivone Lara (1921 – 2018)

No ultimo dia 13 de abril, o Brasil celebrou,  pela primeira vez,  o Dia Nacional da Mulher Sambista, uma homenagem inspirada em  uma das maiores figuras do samba brasileiro, Dona Ivone Lara. Nascida em 1921, no Rio de Janeiro, e falecida em 2018, aos 97 anos, Dona Ivone Lara deixou um acervo de obras fascinantes para a música brasileira, sendo reverenciada como “a grande dama do samba”.

A recente aprovação da Lei n.º 14.834, marca um momento histórico ao oficializar o Dia Nacional da Mulher Sambista, reconhecendo assim a contribuição das mulheres para o cenário do samba. Esta data não só homenageia a compositora Dona Ivone Lara, mas também destaca a importância de todas as sambistas brasileiras.

Ela foi uma figura lendária, deixando um impacto indelével enquanto compositora, cantora e instrumentista, desempenhando um papel fundamental na evolução do samba. Sua trajetória foi marcada por desafios e superações, sendo uma das pioneiras a conquistar espaço em um universo, predominantemente masculino.

Curiosamente, no início  ela não gostou da sugestão de usar o “Dona” na frente do nome, pois achou que a estavam chamando de velha. Mas, logo entendeu que era de “Dona” mesmo: dona, detentora, possuidora de um dos maiores talentos e originalidades da música popular brasileira.

Dona Ivone no hospital no Engenho de Dentro – Foto: Reprodução/Acervo da família

Mas o legado de Dona Ivone Lara vai além. Enfermeira, especialista em Terapia Ocupacional, durante anos, dedicou-se a trabalhos em hospitais psiquiátricos, desempenhando um papel fundamental na reforma psiquiátrica no Brasil. A enfermeira Ivone Lara trabalhou ao lado da doutora Nise da Silveira, no Serviço Nacional de Doenças Mentais, levando a terapia musical para seus pacientes.

Sua jornada na música começou cedo, influenciada por uma família de músicos e marcada por parcerias que moldaram sua carreira. Ela  enfrentou o preconceito e a discriminação com determinação e talento, abrindo caminho para sua consagração como compositora e cantora. Em 1965, aos 44 anos, ela quebrou barreiras ao integrar oficialmente a Ala de Compositores  “Império Serrano”, tornando-se a primeira mulher a assinar um samba-enredo.

Ao longo de sua carreira, Dona Ivone Lara lançou diversos sucessos que marcaram gerações, como “Sonho Meu”, “Sorriso Negro” e “Alguém me Avisou”, conquistando o coração do público e o respeito de grandes artistas, que gravaram suas canções.

Hoje, seu nome é sinônimo de resistência, talento e inspiração. A sambista deixou um exemplo às mulheres, inspirando-as a perseguir seus sonhos e a lutarem por seu lugar na música e na sociedade.

Uma data marcado para comemorar o “Dia Nacional da Mulher Sambista”  é importante para reconhecer e valorizar não apenas o legado de Dona Ivone Lara, mas também a contribuição de todas as mulheres que, como ela, transformaram o samba em uma das maiores expressões da cultura brasileira.

Dona Ivone Lara

Que seu exemplo continue a inspirar e a iluminar o caminho daqueles que têm o privilégio de ouvir sua música e conhecer sua história.

Ouviremos Dona Ivone Lara cantando Alguém Me Avisou; Acreditar e Sonho Meu

Observe como a  “Grande Dama do Samba”, traz em sua música uma profunda conexão com suas raízes afro-brasileiras e uma homenagem à resistência e à vitalidade do samba. 

Maurizio Pollini (1942 – 2024)

A despedida do pianista que encantou o mundo

Maurizio Pollini

Na manhã serena de Roma, no último 23 de março, o mundo da música clássica ficou mais silencioso, as teclas do piano choram a partida de um de seus mais brilhantes intérpretes: Maurizio Pollini. O adeus do virtuoso italiano reverenciado por sua maestria em Chopin e Beethoven ressoa como um vazio acorde final após uma sinfonia.

Ao anunciar a triste notícia, a prestigiada sala de ópera La Scala expressou seu pesar, declarando:

“Maurizio Pollini foi um dos grandes pianistas do nosso tempo e um ponto de referência fundamental na vida artística do teatro durante mais de cinquenta anos”

Maurizio Pollini, 1960 IV Concurso Chopin em Varsóvia, na Polônia

Nascido em Milão, em 05 de janeiro de 1942, em uma família de artistas onde seu pai era arquiteto e músico amador, Pollini fez sua entrada triunfal no mundo da música clássica em março de 1960, ao conquistar o primeiro prêmio no Concurso Chopin de Varsóvia, na Polônia, tornando-se, aos 18 anos, o mais jovem inscrito. O júri, composto por nomes como Nadia Boulanger e Arthur Rubinstein, não poupou elogios ao jovem músico, com Rubinstein proclamando:

Ele já toca melhor do que qualquer um de nós!”.

Após sua vitória, em vez de seguir uma agenda de concertos, Pollini optou por expandir seu repertório, estudando com o renomado Arturo Benedetti Michelangeli.

Para além da música, Pollini se engajava em movimentos políticos, tocava gratuitamente em fábricas e realizava recitais para a elite de Nova York no Carnegie Hall.

Nas décadas de 1970, 1980 e 1990, realizou uma série de gravações premiadas com a Deutsche Grammophon, incluindo a gravação das “Variações Diabelli” de Beethoven, que lhe rendeu o “Diapason d’Or” em 2011, e sua interpretação dos “Concertos para piano nº 1 e nº 2” de Bartók, que lhe valeu um Grammy.

Em uma entrevista para o “The New York Times” em 1993, Pierre Boulez tentou definir a personalidade de Pollini:

“Ele não fala quase nada, mas pensa bastante”.

Maurizio Pollini

Rotulado de “pianista chopiniano” na juventude, Pollini afirmou-se na maturidade interpretando obras de Beethoven, Schumann, Schubert e Brahms, sendo aclamado pela crítica.

Seu legado em Chopin é monumental, destacando-se sua interpretação dos “Noturnos” em 2004, considerada uma das melhores já ouvidas.

Mas Pollini era mais do que um mero guardião do passado; ele era um visionário, abraçando as vanguardas musicais e desafiando fronteiras estilísticas. Sua colaboração com compositores contemporâneos e sua exploração do repertório de Schoenberg demonstram sua inquietude artística e sua vontade de expandir os limites do possível.

Com uma carreira internacional sólida, Pollini presenteou o mundo com uma combinação única de rigor técnico e beleza, extraindo o frescor de um som limpo, fundamentado em suas articulações engenhosas.

Assim se pronunciou a pianista portuguesa, Maria Joao Pires, pelas redes sociais:

“Maurizio Pollini deixou-nos… Deixou-nos mais pobres de música, de sobriedade e de conhecimento. Mais pobres daquela música que não é nunca para agradar a todos os públicos, mas sempre para expressar algo de muito verdadeiro”

Enquanto nos despedimos de Maurizio Pollini, lamentamos não apenas a perda de um ícone da música de concerto, mas também celebramos sua vida e seu legado, enriquecendo-nos com sua música, sobriedade e interpretações magistrais.

Ouviremos, Maurizio Pollini, conhecido como o “pianista chopiniano”, aos seus meros 18 anos, emergir como vitorioso do IV Concurso Chopin em Varsóvia, na Polônia, em 1960. No vídeo em questão, ele nos envolve com sua interpretação magistral do Prelúdio em ré menor, Opus 28, nº 24, e do Improviso em Sol bemol maior, Opus 51.

Observe! Desde tenra idade, Pollini exibia uma combinação impressionante de rigor técnico e frescor, refletindo-se em sua execução clara e límpida, resplandecendo em beleza e vitalidade.

A biografia de Nelson Freire escrita por Olivier Bellamy

Bellamy relata detalhes das  relações amorosas de Nelson, descreve o acidente fatal de seus pais, suas perdas, seus conflitos sempre em  meio ao seu amor incondicional pela música

O Livro
 

A obra intitulada “Nelson Freire – O Segredo do Piano” tem provocado polêmicas no meio musical brasileiro desde seu lançamento. A obra, que busca explorar a vida íntima e os últimos anos do renomado pianista brasileiro, tem gerado desconforto entre os colegas e amigos próximos de Freire, especialmente devido à abordagem sobre sua morte.

A narrativa destaca a personalidade tímida e reservada de Nelson Freire, um gênio do piano que preferia evitar os holofotes. A biografia revela aspectos da vida pessoal do pianista, desde sua infância precoce no mundo da música até seus últimos momentos, marcados por acidentes que o impediram de tocar no mesmo nível que o consagrou musicalmente.

Nelson Freire criança Foto disponibilizada pelo Instituto Moreira  Salles Acervo de Família

A abordagem do menino prodígio, da mudança da família de Boa Esperança em Minas Gerais  para o Rio de Janeiro:

 (…) “ a família Freire se muda para o Rio. O prodígio de cinco anos e meio é carregado em triunfo pela multidão até a saída de Boa Esperança, como Chopin despedindo-se de Varsóvia”

 O livro revela também a relação com as novas professoras depois de vários equívocos na educação musical do pequeno Nelson. Quando os pais o levam à casa da renomada professora Lúcia Branco:

(…) “ ela fica perplexa. O garoto é incrivelmente talentoso. Ele respira música por todos os poros”.

Nelson passa a ser orientado por duas grandes educadoras, a gaúcha Nise Obino e a paulista Lúcia Branco. Uma complementa a outra.

“ (…) “ Lúcia Branco aceita ser sua professora e Nise será a assistente dela. Nelson vê Lúcia todas as quinta-feira e Nise, duas vezes por semana. (…) “ Depois de três meses desse regime diário, o menino está pronto para dar um recital completo”.

Pouco depois de conhecer as professoras  Lucia e Nise, o pequeno Nelson escreve uma carta ao pai:

“Eu sou um menino de oito anos de idade

Eu me chamo Nelson José Pinto Freire.

Eu nasci no dia 18 de outubro de 1944.

Eu sou um menino que passo a vida alegre.

Eu brinco muito com meus amigos.

Eu também brinco e brigo com meus amigos.

Eu mostro-lhe o meu desejo.

Música, música.

Eu lhe falo que termino com uma palavra.

Eu acho ela simples.

Fim

Eu passo a vida na música, música, música”.

Com  Nise Obino,  Nelson,   teve uma relação de amor. Ele era movido pelo amor pelas pessoas e pela música.

“  a relação com Nise é intensa, apaixonada, quase assustadora. Eles não podem viver um sem o outro”

Nelson Freire; Luiz Eça; Lúcia Branco; Jacques Klein, Nise Obino e Moreira Lima (1956)

Mais de trinta anos após o encontro de Nelson e Nise, quando moraram juntos nos arredores de Paris, Nise escreve uma carta a Nelson:

“ Descobri hoje que te amei desde o primeiro dia. Quisera naquele tempo que só quando fazia música o mundo era bom. Tocar, palco, palmas, o resto era bem resto. Certo dia te conheci, pinguinho de gente, meio irreal, nem criança, nem bichinho nem pessoa, De pé, na frente de um enorme piano, e correndo as mãozinhas tão pequenas que nem os dedos apareciam com a velocidade dos movimentos. Era tão cômico, era tão comovente e era tão diferente… Era qualquer coisa fora deste mundo, não dava para classificar de feio ou bonito. Neste momento, vendo bem tudo aquilo, eu vejo que te amei porque pensei para mim mesma: que bom, ele já tem o seu mundo, também para ele o resto será o resto”.

Aos 12 anos, Nelson Freire foi  finalista no I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro (1957).

“O júri só tem olhos para a adorável criança. Guiomar Novaes diz que ele é ‘ um pequeno Rubinstein’. Lili Kraus o acha ‘bonitinho’. Marguerite Long lhe oferece uma bolsa de estudos em Paris”.

Finalista do I Concurso de Piano do Rio de Janeiro (1957)

Após importante conquista, Freire recebeu do então presidente Juscelino Kubitschek uma bolsa de estudos que o levou a Viena, onde estudou sob a orientação de Bruno Seidlhofer.

“ A relação com Seidlhofer é sempre um pouco encrespada. Para entrar na mente de Nelson, primeiro é preciso ganhar seu coração”.

Nelson  Freire e Martha Argerich

Foi em Viena que Nelson conheceu Martha Argerich.

“ Depois da mãe, da irmã Nelma, de Nise, agora ele tem Martha. Desde a mais tenra idade, Nelson sabe que a melhor  maneira de ser amado é se sentar ao piano. Não o piano pelo piano, mas o piano pelo amor”.

Um dos pontos centrais de controvérsia sobre o livro reside na descrição dos eventos que antecederam a morte de Freire. Bellamy relata detalhes das  relações amorosas de Nelson, descreve o acidente fatal de seus pais, suas perdas, seus conflitos sempre em  meio ao seu amor incondicional pela música,   os desafios físicos enfrentados pelo pianista, incluindo acidentes que resultaram em lesões graves. A narrativa culmina na noite de 31 de outubro para 1º de novembro de 2021, quando Nelson, sob circunstâncias obscuras, deixou sua casa e mergulhou na escuridão.

Apesar das críticas e das revelações algumas vezes invasivas, o livro é elogiado por destacar momentos importantes da carreira de Nelson Freire. A biografia oferece um vislumbre da personalidade do pianista e de sua relação única com a música, evidenciando sua dedicação e paixão pelo piano, bem como relata o seu envolvimento emocional com tantos amigos no decorrer de sua vida.

Quem teve o privilégio de ouvir Nelson Freire, ao vivo, sabe que o piano dele era mágico e único.   Ouvir Nelson representa um sentimento misto de emoção e prazer.

“A música tem esse poder de transmissão universal, talvez por ser etérea, não se pode segurar a música, ela precisa ser ouvida”. Nelson Freire

Embora  a publicação de Bellamy contenha elementos fascinantes sobre a vida e carreira de Nelson Freire, a obra é criticada por sua ênfase excessiva em detalhes íntimos, especialmente relacionados aos últimos anos e à morte do pianista, em detrimento de uma exploração mais profunda de seu legado artístico.

No entanto,  vale a pena a leitura, pois mergulhar na vida de Nelson Freire faz com que estejamos mais perto de sua sensibilidade musical,  e isso  é sublime!

Ouviremos  o Concerto de Nelson Freire, realizado em Brasília ,  em janeiro de 2019, pelo Instituto Piano Brasileiro no Auditório Fundação Habitacional do Exército. No programa: W. A.  Mozart – Sonata No.11 (K.331); F. Chopin – Mazurca Op.17 No.4 em lá menor, Mazurca Op.33 No.4 em si menor, Barcarola Op.60; S. Rachmaninoff – Prelúdio Op.32 No.10 em si menor, Prelúdio Op.32 No.12 em sol# menor; H Villa-Lobos – A lenda do Caboclo;  Albéniz e Déodat de Séverac – Navarra;  Albéniz-Godowsky – Tango; Grieg – Dia de casamento em Troldhaugen.

Observe e desfrute da magia de ouvir o piano de Nelson Freire em um recital completo, incluído  as voltas ao palco.

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Despedida do Maestro: Seiji Ozawa (1935 – 2024)

“tocar uma nota errada é insignificante, mas indesculpável interpretar sem paixão.”

Seiji Ozawa
 

O mundo da música lamenta a perda do renomado maestro Seiji Ozawa, falecido na terça-feira aos 88 anos em Tóquio, conforme anunciado pela Veroza Japan, sua agência. Ozawa, ex-diretor da Sinfônica de Boston e da Ópera Estatal de Viena, laureado com prémios Grammy e Emmy, deixa um legado musical que se estende por mais de seis décadas.

A notícia do falecimento surgiu após uma despedida discreta no funeral, reservada apenas a familiares próximos, conforme desejado pelo maestro para garantir um momento sereno. Ozawa dedicou 29 anos de sua carreira à Sinfónica de Boston, superando o recorde de regência estabelecido por Serge Koussevitzky, e durante seu mandato, a orquestra se tornou uma referência tanto nacional quanto internacionalmente.

Além de suas notáveis realizações como maestro, Ozawa deixou um impacto duradouro no ensino e na promoção da música, estabelecendo academias no Japão e na Suíça.

Seiji Ozawa e Hideo Saito

Nascido em Shenyang, China, em 1935, sob administração japonesa, ele iniciou sua jornada musical estudando piano na infância e, aos 16 anos, ingressou na Toho School of Music, onde estudou direção de orquestra com o renomado Hideo Saito.

Vencedor do Concurso Internacional de Direção de Orquestra de Besançon em 1959, Ozawa conquistou o cenário internacional ao ser convidado por Charles Munch, então maestro titular da Sinfônica de Boston para trabalhar com ele. Sua carreira nos Estados Unidos decolou em 1960, após conquistar o Prémio Koussevitzky de melhor regente.

Ozawa Seiji e Herbert von Karajan

Ao longo dos anos, colaborou com figuras proeminentes como Leonard Bernstein e Herbert von Karajan, tornando-se maestro assistente da Filarmônica de Nova Iorque, diretor do Festival Ravinia e diretor musical de diversas sinfônicas, antes de estabelecer residência em Boston em 1973.

Sob a regência de Ozawa, a Sinfônica de Boston atingiu o patamar de maior orçamento do mundo, com doações significativas e uma transformação notável ao longo dos anos. Sua influência se estendeu a outras grandes orquestras, incluindo a Filarmónica de Berlim, Sinfônica de Londres e a Filarmônica de Nova Iorque.

Além de suas realizações como maestro, Ozawa construiu um histórico discográfico com mais de 500 títulos, muitos deles premiados. Seu talento foi reconhecido com vários premios, incluindo um Grammy de Melhor Gravação de Ópera em 2016.

O maestro Ozawa também deixou suas digitais nos principais teatros líricos, colaborando com artistas de renome mundial. Sua dedicação ao ensino musical culminou na fundação da Academia Internacional Seiji Ozawa, na Suíça, e na formação da Orquestra Saito Kinen e da Academia de Música de Câmara Okushiga no Japão.

O Maestro Seiji Ozawa, cuja última apresentação pública ocorreu em dezembro de 2022 no Japão, deixa uma lacuna na arte da regência. O mundo da música chora a perda de um dos grandes maestros da história contemporânea.

Essa frase, de sua autoria, define bem sua relação com a música:

“tocar uma nota errada é insignificante, mas indesculpável interpretar sem paixão.”

Ouviremos  de Ludwig van Beethoven “Egmont” Overture” sob a regência do Maestro Seiji Ozawa com a Orquestra filarmônica de Berlin, gravado em abril de 2016.

Observe a regência de Seiji Ozawa, ele  não  transmite expressões faciais dramáticas nem gestos exagerados com ao reger.  Mas  transmite suas ideias de interpretação perfeitamente. Embora  sereno e calmo, o maestro Ozawa sabia muito bem ser enérgico e se impor perante a orquestra. 

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MAESTRO O FILME!

UMA SINFONIA DA VIDA DE LEONARD BERNSTEIN

Maestro
 

Uma cena marcante do filme é o momento do encontro entre Felicia e Bernstein em uma festa do então professor de piano dela, o pianista chileno Claudio Arrau. 

Felicia Montealegre Cohn

Embora outros eventos significativos, como a estreia de Bernstein na regência da Filarmônica de Nova York, estejam presentes na obra, são apenas detalhes na construção do panorama que revela a essência do homem por trás do maestro. Este enfoque proporciona uma experiência cinematográfica que transcende a mera cultuacão das conquistas profissionais.

Bernstein, uma figura ímpar na música americana, não é retratado aqui apenas como um compositor prolífico, mas como um homem complexo cujas paixões, dúvidas e conflitos pessoais desempenham papéis centrais na trama. Se você assistir o filme com a expectativa de uma exploração aprofundada do processo criativo de Bernstein, o filme pode desapontar nesse aspecto.

Leonard Bernstein

O enredo mergulha na vida íntima do maestro e sua sexualidade passando pelas tensões conjugais com Felicia, evidenciadas por cenas delicadas e românticas. O longa se desenvolve em torno da dolorosa separação do casal, destacando o desconforto crescente da esposa e o dilema do maestro em aceitar sua verdadeira identidade. O drama interpretado por Carey Mulligan e Bradley Cooper, aprofunda-se nas ambiguidades emocionais, privilegiando a exploração do âmago dos personagens sobre a mera narrativa bibliográfica.

“Maestro”Carey Mulligan e Bradley Cooper

Vale destacar a habilidade e o talento de Cooper, como diretor, em utilizar opções técnicas para evidenciar a passagem do tempo, como a sequência em preto e branco dos anos 40. Neste momento, a paixão do casal é retratada de forma delicada e romântica, absorvendo o espectador em um número musical, demonstrando o amadurecimento do cineasta no domínio da linguagem visual.

Ao abordar diferentes períodos entre 1943 e 1987, “Maestro”,  não apenas destaca a atuação excepcional dos atores, mas também expõe a capacidade de Bradley Cooper como diretor.  Este cuidado estendido à arte cinematográfica sugere que “Maestro” pode surgir como um candidato promissor nas premiações da Academia

Familia Bernstein

A equipe de produção de  do filme,  incluindo o diretor Bradley Cooper, buscou garantir a precisão histórica, contando com a colaboração dos filhos do casal Bernstein. A produtora Kristie Macosko Krieger enfatiza a importância do envolvimento dos filhos, Jamie, Alexander e Nina, na validação da autenticidade da história de amor.

Segundo Nina Bernstein Simmons:

“realmente o filme conseguiu capturar sua essência, seu eu mais íntimo”

Leonard Bernstein, uma figura multifacetada, deixou um legado duradouro na música mundial. Suas realizações artísticas, desde a composição de trilhas sonoras notáveis até sua atuação como regente da Filarmônica de Nova York, são imortalizadas no filme “Maestro”.

Ver esse filme possibilitará, ao expectador, refletir sobre até que ponto a tela reflete com fidelidade as complexidades e nuances de uma vida marcada por paixões, compromissos e contradições da sinfonia que foi a vida de Leonard Bernstein.

Para finalizar vamos ouvir Bernstein ao piano, regendo a Filarmônica de Nova York, interpretando a Rhapsody in Blue de George Gershwin no “Royal Albert Hal” em 1976.

Observe! Rhapsody in Blue, composta em 1924, combina elementos da música de concerto com o jazz. Essa obra, estabeleu a reputação de Gershwin e tornou-se uma das peças mais executadas pelas prestigiadas salas de concertos do planeta.

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A mensagem de Paz de John Lennon em “Imagine”

marco na carreira solo de Lennon

Papa Paulo VI
 

No primeiro dia do ano, um manto de serenidade cobre o planeta, marcando “O Dia da Paz Mundial”, iniciativa  do Papa Paulo VI em 1967.  O líder da Igreja Católica, à época,  propôs a celebração anual, não apenas para os fiéis católicos, mas para todos os seres humanos, transcendendo barreiras religiosas. Em sua mensagem, o Papa expressou a esperança de que o mundo aderisse a essa causa, visando uma humanidade consciente e liberta de conflitos bélicos.

Neste início de ano, a busca pela paz mundial ressurge, ecoando as palavras de John Lennon, o icônico Beatle e ativista britânico que lutou pela paz até o dia de seu assassinato em dezembro de 1980.

Em 1967, o ano da proposição do Papa pelo dia mundial da paz, Lennon compôs “All You Need Is Love”, tornando-se um ativista do movimento antiguerra e da contracultura da época. Entre 1968 e 1972, Lennon, em parceria com Yoko Ono, produziu uma série de gravações, incluindo o sucesso internacional “Give Peace a Chance”, “Happy Xmas (War Is Over)” e a emblemática “Imagine”. Esta última, uma obra atemporal.

John Lennon

Marco na carreira solo de Lennon “Imagine” foi composta em 1971, embora,  pareça mais atual do que nunca.  Sua mensagem inspiradora encoraja a visão de um mundo sem fronteiras, livre de divisões religiosas e nacionais, propondo uma vida desapegada de bens materiais. A canção foi fortemente influenciada pelos poemas de Yoko, especialmente “Cloud Piece” de 1964, presente no livro “Grapefruit”.

Em entrevista à revista Playboy em 1980, Lennon revelou que a inspiração também veio de um livro de orações cristãs dado a Yoko por Dick Gregory. Definindo “Imagine” como um “Hino humanista para o povo”, Lennon expressou sua visão anti-religiosa, anti-nacionalista, anticonvencional e anticapitalista.

John Lennon e Yoko

A magnificência de “Imagine” não passou despercebida, sendo eleita pela Rolling Stone como a 3ª maior música de todos os tempos. Recebendo o prestigiado prêmio Grammy Hall of Fame e uma posição no museu Rock and Roll Hall of Fame entre as 500 músicas que moldaram o rock. A canção continua a transcender gerações como uma verdadeira obra-prima.

AAinda sobre os efeitos do “Dia da Paz Mundial”, que possamos refletir através da letra e música, de John Lennon, unindo-nos como “verdadeiros amigos da Paz”. E quem sabe, ao som de “Imagine”, possamos “sonhar”com o final dos conflitos que assolam nosso planeta. Afinal, como Lennon nos lembrou, tudo que precisamos é amar.

Ouviremos “Imagine” com John Lennon, voz e piano.

 Observe: essa época foi muito fértil para a música e a cultura em geral. Os movimentos dos anos sessenta influenciaram a música pop e revolucionaram a indústria cultural. A crença nos valores de “paz e amor” contrastava com os conflitos que estavam devastando o mundo, e, infelizmente ainda devastam.  A poética da canção cria uma imagem de um futuro em que haverá mais igualdade entre as pessoas. A  música de Lennon literalmente propõe imaginarmos uma realidade  sem conflitos.

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A DESPEDIDA DE CARLOS LYRA

O ativismo de Lyra não se limitou à música

Carlos Lyra lomeo Cristofori
 

No último dia 16 de dezembro, a música brasileira despedindo-se de um dos últimos pilares da bossa nova, Carlos Lyra. Nascido em 11 de maio de 1933, Lyra foi uma figura emblemática na história da música, desempenhando um papel fundamental nos primórdios da bossa nova. Sua carreira, que abrange quase sete décadas, testemunhou sua participação ativa nos encontros musicais da Zona Sul do Rio de Janeiro ao lado de nomes como Nara Leão, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Sérgio Ricardo. Seu legado, um acervo de 20 álbuns e uma coletâneade  inéditas lançado em 2019: “Além da Bossa”, solidifica sua posição como um dos grandes expoentes da Música Popular Brasileira.

Carlos Lyra, ao longo de sua notável carreira, resistiu bravamente à tentativa de ser rotulado meramente como um bossa-novista. Para ele, a essência residia no samba, e em certo momento desafiou os filósofos da USP que tentavam monopolizar a interpretação da bossa nova. Para Lyra:

“ a bossa nova não era apenas um movimento mercadológico, mas uma ponte entre o samba sincopado e o samba-choro dos anos 40, moldada pelas novas harmonias de mestres como João Gilberto, Johnny Alf e Aníbal Augusto Sardinha”.

Sua jornada musical começou em 1957, quando, em parceria com Menescal, deu vida a uma das mais belas canções românticas brasileiras, “Coisa Mais Linda”, eternizada na voz de João Gilberto em seu álbum de estreia. Ao longo dos anos, Lyra tornou-se um defensor das raízes do samba, como evidenciado em sua obra “Influência do Jazz”, magistralmente interpretada por Lenny Andrade.

O ativismo de Lyra não se limitou à música. Como fundador do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes em 1961, sua voz ecoou durante a ditadura, exilando-se nos EUA, em 1964, por conta do Golpe Militar. Em terras estadunidenses gravou com Tony Bennette fez turnê comStan Getz. Morou também no México, antes de retornar ao Brasil  definitivamente em 1976.

Lyra também esteve presente no histórico Festival de Bossa Nova, realizado no Carnegie Hall, em Nova York, em 1962.

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Registro do festival Bossa Nova at Carnegie Hall, em 1962, com Roberto Menescal, Ana Lúcia, o conjunto de Oscar Castro Neves, Carlos Lyra, Normando e Chico Feitosa

Foto: Dan Blaweiss/Divulgação

Nos anos 50, enquanto o Brasil se internacionalizava, a bossa nova firmava-se como um dos pilares da brasilidade, conectando-se às raízes do samba-canção e do samba-choro, ecoando por Baden Powell, Edu, Chico, Gil, Caetano, Milton e João Bosco. Carlos Lyra deixa-nos com o último suspiro de um Rio de Janeiro que já não existe, mas que reverbera eternamente em sua música imortal.

Ao relembrar seus maiores sucessos, como “Maria Ninguém”, “Coisa Mais Linda” e “Influência do Jazz”, destacamos a versatilidade desse compositor que transcendeu rótulos e enriqueceu o panorama musical brasileiro. Carlos Lyra parte, mas sua música se perpetua proporcionando uma jornada nostálgica pelos caminhos da bossa nova e além.

50 Anos da Bossa Nova

Ouviremos “Primavera” de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes  do DVD “Carlos Lyra. 50 Anos de Música”  com Antonio Adolfo ao piano.

Observe em “Primavera” o encontro entre letra poética e melodia sofisticada nesse exemplo bem sucedido do encontro de Lyra  com o “petinha”.

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Uma viagem pela vida e legado de Bartolomeo Cristofori

Ao refletirmos sobre a vida e obra de Cristofori, é evidente que sua contribuição transcendeu a técnica para a criação de uma peça fundamental na história e na literatura do piano

Bartolomeo Cristofori (1655 – 1731)
 

Bartolomeo Cristofori, conhecido na história como o inventor do pianoforte, nasceu em 4 de maio de 1655 em Pádua e faleceu em 27 de janeiro de 1731em Florença.

Pouco sabemos dele antes de 1688, quando aos 33 anos foi contratado pelo Grã- Príncipe Ferdinando de Médici (1663 – 1713), um amante e patrono da música. Essa colaboração marcaria um capítulo crucial na história da música, pois Cristofori não era apenas um técnico talentoso, mas um inventor de instrumentos musicais. O príncipe, fascinado por máquinas e proprietário de uma vasta coleção de instrumentos musicais, viu em Cristofori não apenas um mantenedor de instrumentos, mas um visionário na arte de criar.

Músicos da corte dos Médici Por: Anton Domenico Gabbiani

Em meados de 1700, surgiu na cena musical oficialmente o pianoforte. O “Arpicembalo” de Cristofori, registrado nos inventários dos Médici, trazia um som que podia ser suave como um sussurro e forte como um trovão. O príncipe, fascinado, percebeu que estava diante de algo extraordinário, não apenas um instrumento, mas uma obra-prima da mecânica. Cristofori conseguiu fabricar um instrumento rico em nuances, desafiando as convenções, proporcionando uma resposta tátil delicada e eficiente.

Instrumento construído por Bartoloeo Cristofori, Metropolitan Museum em Nova York

Bartolomeo Cristofori permaneceu em Florença, continuando a trabalhar para os Médici até sua morte em janeiro de 1731. Seus assistentes, Giovanni Ferrini e Domenico dal Mela, seguiram carreiras notáveis, com Dal Mela creditado por fazer o primeiro piano vertical.

Há também uma sessão interessante de instrumentos musicais antigos, incluindo alguns instrumentos de Bartolomeu Cristofori em Florença na Galleria dell’Accademia di Firenze.

Instrumento construído por Bartoloeo Cristofori, Galleria dell’Accademia di Firenze

 O design inovador de Cristofori inclui uma ação de piano complexa, martelos de papel, um suporte interno para a tábua harmônica e uma disposição única de cordas. Embora seus pianos tenham sido de construção leve e não pudessem produzir um som especialmente forte para os padrões atuais, eles incorporavam quase todas as características dos instrumentos modernos.

A influência de Cristofori, inicialmente lenta na Itália, ganhou destaque quando a rainha Maria Bárbara de Bragança (1711 – 1758), patrona do compositor Domenico Scarlatti (1685 – 1757), adquiriu cinco desses pianos. No final do século XVIII, o pianoforte solidificou seu lugar como um dos principais instrumentos na música ocidental.

Rainha Maria Bárbara de Bragança, 1725, por Domenico Duprà, Museu do Prado

O legado de Bartolomeo Cristofori permanece vivo perpetuando sua genialidade através do tempo.

Ouviremos a Sonata n. 14 em dó menor de L. van Beethoven interpretada no “Piano forte” de Eric Zivian. Essa gravação é uma coprodução do Festival de Música Valley of the Moon que buscam interpretações em instrumentos antigos visando uma compreensão do estilo da época.

Observe que o som do piano da época de Beethoven era bem diferente do piano moderno. Essa gravação permitirá experimentar ouvir o som conforme soavam no instante da composição.

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“Miúcha, a voz da Bossa Nova”

uma Jornada Musical e Emocional

Cartaz do Filme: Miucha a voz da Bossa Nova
 

Nesta semana falaremos sobre a icônica cantora Miúcha, conhecida como “A Voz da Bossa Nova.” Seu legado na música brasileira é indiscutível, e agora, graças ao trabalho cuidadoso dos cineastas Daniel Zarvos e Liliane Mutti, temos a oportunidade de conhecer mais sobre sua vida e carreira por meio do longa-metragem “Miúcha, a voz da Bossa Nova”.

O filme, narrado pela atriz Silvia Buarque, sobrinha de Miucha, e com a voz pessoal da própria artista, é uma verdadeira viagem no tempo. Utilizando imagens de arquivo que incluem cartas, depoimentos, diários, filmes em Super 8, fitas cassetes e aquarelas, a obra nos apresenta o retrato de Miúcha nas décadas de 60 e 70, enquanto ela enfrentava os desafios e as amarguras da busca por seu sonho de se tornar uma cantora de destaque.

Miúcha, cuja jornada a levou de Nova York a Paris, passando pela Cidade do México e Rio de Janeiro, conviveu com verdadeiros gigantes da música e da cultura. Ela foi esposa de João Gilberto, protegida de Vinícius de Moraes, irmã de Chico Buarque, companheira de Tom Jobim e a voz que encantou ao lado do sax de Stan Getz. Uma trajetória grandiosa que, no entanto, não foi isenta de desafios.

O filme também nos leva aos bastidores dos encontros de Miúcha com a poeta chilena Violeta Parra, que a apresentou a João Gilberto em Paris, e com Simone de Beauvoir, que a conheceu no Rio de Janeiro, em um encontro na casa dos seus pais, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda e a pianista Maria Amélia

Apesar dos desafios financeiros e administrativos, os idealistas persistiram em seu propósito de manter o Conservatório Goiano de Música. Como todos os professores eram especializados em piano, foi decidido que cada um também lecionaria uma disciplina teórica adicional, a fim de ampliar a oferta de disciplinas necessárias. No entanto, um desafio permanecia: encontrar um prédio próprio para a sede da instituição.

Liliane Mutti, uma das mentes por trás do projeto, revela:

“Esse material inédito é muito revelador. Mesmo a família e os amigos mais íntimos descobrem pontos da vida e criação de Miúcha que só foram contados por ela a nós, durante os últimos dez anos da sua vida. Somos levados a uma grande reflexão sobre o lugar e os desafios da mulher artista na sociedade. Miúcha viveu intensamente os anos 60 e 70, recorte escolhido para o filme, e deixou um legado de liberdade radical para todas nós”.

 Silvia Buarque, que teve a tarefa sensível de dar vida às cartas escritas por Miúcha, conta:

“O Daniel e a Lili me dirigiram bastante bem, mas foi um trabalho difícil porque eu tinha uma ligação muito especial com a Miúcha. A ideia nunca foi imitá-la, nem eu seria capaz. Mas eu queria pegar a cadência. Foi doloroso ouvir os recados dela, deu saudade… Mas também foi um trabalho prazeroso. Conheci um lado dela que eu não conhecia. Foi muito intenso, como era a Miúcha, gostoso e dolorido ao mesmo tempo”.

O filme não apenas destaca o talento inquestionável de Miúcha, mas também revela os desafios e dificuldades que ela enfrentou, inclusive nas mãos de João Gilberto, que a boicotou e silenciou em diversos momentos.

Não é à toa que “Miúcha, a voz da Bossa Nova” recebeu prêmios de destaque, como o de Melhor Longa de Música no Festival Internacional de Cinema Indie – Lisboa e o de Melhor Filme do In-Edit – México. Além disso, foi o único representante nacional na categoria musical da 38ª edição do Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, também no México.

Portanto, não percam a chance de conferir este emocionante e revelador documentário que joga luz sobre a vida e a carreira de Miúcha, uma das maiores vozes da música brasileira. Sua jornada é inspiradora e nos faz refletir sobre a importância das mulheres artistas na sociedade. Uma verdadeira obra de arte cinematográfica que merece sua atenção.

Para relembrar Miucha ouviremos a canção “Pela Luz dos Olhos Teus” é uma parceria de Tom Jobim e Vinícius de Moraes lançada em 1977 no álbum “Miúcha e Antônio Carlos Jobim”.

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