CAETANO VELOSO

os 80 anos de um dos gênios da arte brasileira

Caetanos Veloso (1942)

Músico, produtor, arranjador e escritor brasileiro, Caetano Veloso, completou 80 anos de idade no ultimo domingo 07 de agosto, comemorado em grande estilo com um show, transmitido por plataformas digitais, rodeado pelos filhos: Moreno, Zeca e Tom, e, da irmã Maria Bethânia.

Caetano com os filhos e a irmã Maria Bethânia.

Com um passado e um presente que lhe garantem admiração no Brasil e exterior, Caetano, construiu uma obra musical marcada pela releitura e renovação, com grande valor intelectual e poético, se destacando como uma das principais referencia artísticas brasileiras.

O artista plural que nunca parou de compor nem de cantar, ao longo de sua carreira, também escreveu livros e produziu cinema. Caetano Veloso tem canções em trilhas sonoras no cinema nacional e  internacional como “Hable com Ella”, de Pedro Almodovar e em “Frida”, de Julie Taymor, recebendo, ao longo de sua carreira, inúmeros prêmios.

“Hable com Ella”, de Pedro Almodovar

Caetano Emanuel Vianna Teles Veloso nasceu em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, no dia 07 de agosto de 1942. Filho de José Veloso, funcionário dos Correios e Telégrafos, e de Dona Canô, aos 14 anos de idade, veio de mudança com a família para o Rio de Janeiro.

Em 1960, a família voltou à Bahia, indo morar em Salvador. Nessa época, ao violão,  Caetano passou a acompanhar, sua irmã Maria Bethânia, em bares da cidade.

Foi ao lado de Gal Costa que Caetano grava “Domingo”, seu primeiro disco. A música “Alegria, Alegria” é classificada em quarto lugar no III Festival de MPB da TV Record.

Nesse momento, surge na música  brasileira um movimento de ruptura cultural que tem como marco o lançamento, em 1968, do disco “Tropicália ou Panis et Circensis”, disco-manifesto  do Tropicalismo, cujos participantes foram: Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa,  os Mutantes  (banda) e o maestro Rogerio Duprat.

Capa do Disco “Tropicália ou Panis et Circensis”
fotografia realizada na casa de Oliver Perroy, fotógrafo da Editora Abril, SP

Outro fato que marca a vida e a carreira de Caetano Veloso foi o exilio. Caetano é preso pela ditadura militar, acusado de ter desrespeitado o Hino Nacional e a Bandeira. Em 1969, parte para o exílio, em Londres, voltando em 1971.

Deprimido com o exilio europeu, o artista baiano ganhou ânimo quando o produtor musical britânico Ralph Mace o convida para compor e gravar um disco na Inglaterra.

Álbum Caetano Veloso
Lançado na Inglaterra em junho de 1971 pelo selo Famous / GW (de Ralph Mace) e editado no Brasil via Philips no segundo semestre daquele mesmo ano de 1971

Já no Brasil, Caetano Veloso, Gal, Gil e Bethânia formam o grupo “Doces Bárbaros” gravam “Os Mais Doces dos Bárbaros” e excursionam por todo o país.

“Os Mais Doces dos Bárbaros”

Outro parceiro marcante  na vida e na carreira de Caetano foi  Gilberto Gil, que assim se expressa sobre os 80 anos de Caetano:

“meu afeto fortalecido de amigo e de irmão é tudo que posso lhe dar de presente no seu aniversário de 80 anos”

Gilberto Gil e Caetano Veloso

Na década de 80, ao lado de Chico Buarque, apresentou na televisão, o programa “Chico & Caetano”, onde cantava e recebia convidados.

Chico Buarque e Caetano Veloso

Caetano não para de produzir arte. Completa 80 anos nos brindando com sua genialidade que parece inesgotável. 

Difícil escolher uma obra como exemplo. Optamos por “Sampa”, do álbum Muito – Dentro da Estrela Azulada, sendo a canção mais ouvida dentre os inúmeros sucessos do baiano Caetano.

Em vídeo ao vivo de março de 2017  – Caetano Veloso e Gilberto Gil – Caetano interpreta (voz e violão) “Sampa”

Observe! “Sampa” promoveu a ruptura na composição brasileira, libertando-a do vocabulário culto e do romantismo exagerado.

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80 anos do Teatro Goiânia

O dia do “Batismo Cultural de Goiânia”

Teatro Goiânia em 1942, ano de sua inauguração. Batismo Cultural da cidade de Goiânia
Foto: IBGE

Há 80 anos, no dia 05 de julho de 1942, a população goianiense despertou com o toque de alvorada e fogos de artifício, para comemorar o dia intitulado “Batismo Cultural de Goiânia”, termo utilizado para designar o dia da inauguração oficial da capital.

No decorrer da semana a cidade foi palco de realizações culturais que atraíram várias personalidades politicas, artísticas, eclesiásticas e intelectuais do país e da participação do público em geral.

Dentre os vários eventos e festividades que marcaram a Inauguração oficial de Goiânia, a missa campal realizada na manha do dia 05 de Julho pelo arcebispo de Goiás, D. Emanuel Gomes de Oliveira, e pelo arcebispo de Cuiabá, D. Aquino Correia, constitui-se como um momento de relevante significado para o restabelecimento de uma nova aliança entre a Igreja e o Estado em Goiás.

Getúlio Vargas (1882 – 1954), então Presidente da República, deu força, influindo para que aqui se realizassem o Oitavo Congresso Brasileiro de Educação e a Assembleia Geral dos Conselhos do IBGE. Foram dias de discussão febris e excitantes, com destaque para o lançamento da Revista OESTE, que reunia a intelectualidade. Cerca de seiscentos visitantes estrangeiros participaram das comemorações.

Batismo Cultural de Goiânia
Foto: Acervo IFG

Nessa data também foi inaugurado o Cine Teatro Goiânia, como era denominado à época, com a peça “Deus lhe pague”, protagonizada pela atriz Eva Tudor (1919-2017). Foi também no mesmo palco que Pedro Ludovico Teixeira entregou a chave simbólica da cidade ao indicado prefeito da nova capital, Venerando de Freitas Borges.

Eva Tudor (1919-2017)

No entanto o Cine Teatro, então inaugurado, não possuía capacidade para apresentações teatrais, havia sido planejado para estas funções, mas as dimensões de palco eram reduzidas e impróprias para a montagem de espetáculos amplos e sofisticados.

Durante toda a década de 40, 50 e 60 o local fez sucesso promovendo exibições de filmes nacionais e internacionais, bem como formaturas e eventos, reunindo personalidades políticas e a população goiana.

Teatro Goiânia

No início de 1976, com o declínio dos cinemas, a falta de uma estrutura teatral para espetáculos e o a necessidade de reparos em suas instalações, o espaço, foi fechado e passou por minuciosa reforma, quando então se abandonou a ideia de cineteatro, para ter somente a função de teatro.

  A reinauguração aconteceu na noite de 15 de março de 1978, marcada pela apresentação do Corpo de Baile da Associação de Ballet do Rio de Janeiro. A companhia trouxe ao palco os bailarinos Margot Fonteyn (1919 – 1991) e David Wall (1946 – 2013). Após o espetáculo, Fonteyn declarou para a imprensa:

“O equipamento eletrônico do Teatro Goiânia coloca esta casa na liderança dos teatros do Brasil e entre as melhores do mundo”.

Margot Fonteyn e David Wall

Em 1998, o teatro Goiânia, recebe mais uma reforma e se torna uma das mais modernas casas de espetáculos do país e se torna patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),

Atualmente o Teatro Goiânia possui capacidade de 850 lugares e recebe os mais variados espetáculos e peças teatrais. Resgatando parte de seu histórico, o Teatro Goiânia também recebe exibições de filmes e é palco de importantes festivais de cinema regionais.

Teatro Goiânia

Chama a atenção o nome dado ao hall de entrada do Teatro Goiânia, denominado “Tia Amélia”.

Amélia Brandão Nery, carinhosamente chamada de Tia Amélia, como ficou conhecida, nasceu em Pernambuco em 25 de maio de 1897 morrendo aos 86 anos de idade em Goiânia no dia 18 de outubro de 1983.

Tia Amélia (1897 1983)

Tia Amélia foi um grande nome da música brasileira. Compositora e pianista, frequentou e brilhou nos grandes centros. Em Goiânia abriu uma escola de música. Podemos citar como uns de seus ilustres alunos: Heloisa Barra, Estercio Cunha, Maria Augusta Callado e Glacy Antunes de Oliveira.

Para celebrar a grande musicista que dá nome ao hall de entrada do Teatro Goiânia ouviremos de Tia Amélia a Valsa Gratidão – executado por Hercules Gomes, piano e Rodrigo Y Castro, flauta.

Observe a beleza dessa obra composta por tia Amélia com apenas 12 anos de idade.

Vida longa ao Teatro Goiânia que comemora 80 anos de idade.

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O ADEUS Á GILBERTO TINETTI

pianista de grande personalidade e reconhecido mérito

Gilberto Tinetti (1932 – 2022).
Foto: Reprodução

Morreu, no ultimo 18 de junho, preste a completar 90 anos, o pianista e professor aposentado da Escola de Comunicação e Artes da USP Gilberto Tinetti (1932 – 2022).

Intérprete de variado repertório dedicou especial atenção à divulgação da música brasileira, principalmente dos compositores Camargo Guarnieri e Heitor Villa-Lobos.

Villa-Lobos (1887 – 1959) ao piano ao lado da pianista Magda Tagliaferro (1893 – 1986), 1956. Acervo do Museu Villa-Lobos
Fonte: institutopianobrasileiro.com.br

Tinetti iniciou seus  estudos de piano aos 10 anos, com Josephina De Felice. Mais tarde tornou-se aluno de Hans Bruch, que o apresentou a Magdalena Tagliaferro, com quem estudou em Paris, entre 1957 e 1959.

Na Europa venceu o Concurso da Academia Internacional de Verão do Mozarteum de Salzburgo, na Áustria, em 1970.

De volta ao Brasil, formou, em 1975, o TRIO BRASILEIRO  com os músicos Erich Lehninger, no violino, Watson Clis, no violoncelo.  O Trio foi condecorado como o melhor conjunto de câmara pelo Prêmio Carlos Gomes, 1999.

Trio Brasileiro – Erich Lehninger, Watson Clis e Gilberto Tinetti

Entre os anos de 1980 e 2002 o pianista Tinetti foi professor do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.  Na ECA, onde formou diferentes gerações de artistas, ministrou aulas de piano e música de câmara.

Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

Também, entre 1980 a 2002, Tinetti foi professor e diretor artístico do Seminário de Música Pró Arte de São Paulo, fundado por Hans-Joachim Koellreutter.

Sendo que em 1986 foi convidado pela direção da Cultura FM para apresentar a série “A Arte de Magdalena Tagliaferro”, em homenagem à sua professora que havia falecido naquele ano.

Posteriormente, em 1987, passou a integrar o quadro de apresentadores da Rádio, com o programa diário “Teclado”  com séries semanais dedicadas a integral de obras para piano de relevantes compositores nacionais e estrangeiros.

  Em 1996, o programa “Teclado” passa por algumas mudanças e é denominado “Pianíssimo”, atração que Gilberto Tinetti apresentou na Cultura FM até dezembro de 2019.

Gilberto Tinetti ao piano

A notícia da morte de Tinetti gerou depoimentos emocionados e homenagens pelo Brasil a fora. Querido por seus pares, a morte de Tinetti deixa uma vazio na música brasileira.

Segundo o Diretor da Sala Cecília Meireles João Guilherme Ripp“a música brasileira perde a arte, técnica e elegância de Tinetti, um de nossos maiores intérpretes”.

O compositor Ronaldo Miranda disse: “Ele deixa uma legião de ex-alunos brilhantes, de Lilian Barretto a Antonio Vaz Lemes, além de incontáveis admiradores (…)”.

A pianista Olga Kiun  se pronunciou: “Acabou mais uma linda e superprodutiva vida de grande músico e ser humano. Vai ser lembrado por muitos com amor”.

Ouviremos o Pianista brasileiro Gilberto Tinetti interpretando os 4 movimentos, das Bachianas Brasileiras Nº 4 de Heitor Villa-Lobos: 1º mov: Prelúdio 2º mov: Coral (Canto do Sertão) 3º mov: Aria (Cantiga) 4º mov: Dança (Miudinho) em uma Transmissão da Tv Cultura  – Programa Clássicos  gravado em 2000.

Observe! Tinetti em encontro com Villa-Lobos registra orientações interpretativas valiosas em relação a essa obra, como a valorização dos baixos em oitavas.  Segundo o pianista, Villa-Lobos teria dito: “Aí está o Bach!”.

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FESTAS JUNINAS

Considerada a segunda festa brasileira mais popular no Brasil

Festa Junina

Com traço marcante da cultura popular brasileira, as festas juninas, tem sua formação histórica ligada ao sincretismo entre sua origem pagã e a celebração de santos católicos.

As festas juninas chegaram ao Brasil através da colonização portuguesa, e, marcam um ciclo de festividades para celebrar três santos importantes para Portugal e para o cristianismo ocidental: Santo Antônio (dia 13), São João (dia 24) e São Pedro (dia 29).

Santos Juninos

As celebrações, no entanto, devem ser compreendidas num cenário maior de apropriação de festas pagãs pelo calendário da Igreja Católica.

Segundo Christian de Oliveira:

“A Igreja Católica se apropria de festas pagãs, das festas judaicas às indígenas”.

 Importante notar que as festas juninas, no Brasil, receberam influências temporais e regionais, apresentando atualmente, de forma diferente em cada região do país. É na decoração, nas comidas típicas, nos ritmos e danças, dentre outras particularidades, que se diferenciam de acordo com a região do país.

No que tange a afamada quadrilha, inicialmente, era um conjunto de danças com cinco partes, cada uma com ritmos e músicas diferentes, derivadas das danças palacianas, trazidas para o Brasil pela corte portuguesa a partir de 1808.

Lundu no Brasil colonial  por Johann Moritz Rugendas (1802-1858)

Com o advento da República em 1889, foi criado o termo “festa junina” como uma forma de identificação nacional da festa no Brasil. 

Segundo Alberto Ikeda: “O que restou da quadrilha no Brasil foi o último movimento deste conjunto de danças palacianas, que era uma polka”.

Quadrilha no Brasil

Historicamente, os ritmos que ficaram marcados como juninos foram a polka e a marcha. Com o passar do tempo, o forró passou a ganhar mais espaço nas festas juninas do Brasil.

Ainda segundo Ikeda:  “os ritmos e danças mais populares, se alteraram ao longo dos anos – Um fenômeno atual é a abertura das festas juninas para outros gêneros musicais que não o forró ou as marchas juninas”.

Trazendo essa tradição para a música de concerto, encontramos vários compositores brasileiros que se inspiraram nesses ritmos e compuseram obras lembrando a tradição das festas juninas.

A fogueira é recorrente em Festas Juninas pelo Brasil. O compositor carioca Lorenzo Fernandes (1897 – 1948), compôs em 1935 “Recordações da Infância” uma suíte para jovens pianistas: 1. Caminho da Serra; 2. Na Beira do Rio; 3. Fogueira de São João.

Lorenzo Fernandes (1897 – 1948)

Ouviremos a Fogueira de São João, interpretada pela pianista Carla Reis,  disponibilizada pelo Instituto Piano Brasileiro – IPB

Observe! Essa obra, tão simples, consegue remeter a memórias afetivas relacionadas às fogueiras das tradicionais festas jun

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MELODIA SENTIMENTAL

de trilha sonora a canção popular

Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
Foto: Reprodução

O compositor brasileiro, Heitor Villa-Lobos (1887-1959), é considerado um expoente da música no Brasil. Suas obras são executadas no circuito dos mais prestigiados teatros brasileiros, europeus e americanos.

Sua obra consegue frequentar diferentes círculos. Villa-Lobos se faz presente tanto nas salas de concertos mais tradicionais, como em palcos de cantores de música popular.

 Modernista de primeira hora gostava de cinema e foi um dos primeiros compositores brasileiros a compor trilhas para a sétima arte.

Nos anos 50, Villa recebeu a proposta de compor a trilha sonora do filme “Green Mansions” do estadunidense Mel Ferrer (1917 – 2008), estrelado pela atriz britânica Audrey Hepburn (1929 – 1993).

Inicialmente o longa foi um fracasso. As obras de Villa-Lobos foram em grande parte excluída da trilha sonora. Insatisfeito, o compositor reaproveitou os temas na cantata “A Floresta Amazônica”, sendo um dos temas a canção “Melodia Sentimental”.

Dora Alencar Vasconcellos (1910 – 1973) por Candido Potinari ((1903 – 1962)

Melodia Sentimental logo chamou a atenção de sopranos de todo o planeta. A suave serenata com letra da poeta e diplomata brasileira Dora Alencar Vasconcellos (1910 – 1973) seduziu vários cantores populares de sucesso.

Elizeth Cardoso (1920 – 1990)

Nos anos 60, Elizeth Cardoso (1920 – 1990),incorpora de forma definitiva o adjetivo “Enluarada” ao gravar a canção de Villa-Lobos com parâmetro de interpretação distante do “Bel canto”, abrindo caminho para diversas gravações até os dias de hoje.

Luis Leite (1979) e Mônica Salmaso (1971)

São várias as Interpretação de Melodia Sentimental, escolhemos o do violonista carioca Luis Leite (1979) e da cantora Mônica Salmaso (1971) em gravação ao Vivo na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro em junho de 2019.

O violonista Luis Leite possui sólida formação clássica, e, vem sendo apontado como um dos violonistas brasileiros de maior destaque na cena instrumental Contemporânea.

 Já a cantora Mônica Salmaso possui uma suave voz de mezzo soprano, combinada com intimismo e extremo bom gosto na seleção das obras que interpreta. A cantora brasileira foi indicada ao Grammy Latino e conquistou na categoria de melhor cantora, o Prêmio de Música Brasileira (2014) e da Associação Brasileira dos Críticos de Arte (1999). 

Observe! Essa é uma das primorosas interpretações de “Melodia Sentimental” de Villa-Lobos.

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CASAMENTOS NO MÊS DE MAIO

e a curiosa história da “Marcha Nupcial” de Carlos Gomes

Foto oficial da família real britânica, depois do casamento de Harry e Meghan Markle , em 19 de maio de 2018
Foto: Reprodução

Maio é conhecido como o “mês das noivas” existindo algumas possibilidades para essa escolha.

Entre as possíveis explicações estão: ser essa a época das flores no hemisfério norte; a ligação com a consagração de Maria, mãe de Jesus; e forte influência do Dia das Mães em alguns países incluído o Brasil.

 Dessa forma, o mês, é um dos preferidos, pelos casais, para a celebração de casamento.

Dentre as tantas preocupações com a cerimonia, à escolha da música para a entrada triunfal é fundamental. As Marchas Nupciais são as mais utilizadas dentre as escolhas de noivos.

As marchas nupciais mais conhecidas e tocadas em casamentos até os dias de hoje, são as dos compositores alemães Wilhelm Richard Wagner (1813 – 1883) e Felix Mendelssohn (1809 – 1847). 

A Marcha Nupcial de Richard Wagner foi composta em 1850 para a Ópera Lohengrin. Escrita para Coral e Orquestra, é conhecida também como “Coro Nupcial” e é uma parte do terceiro ato da referida Ópera.

Wilhelm Richard Wagner (1813 – 1883)

Já a Marcha Nupcial de Felix Mendelssohn foi composta em 1842 para musicar a peça de teatro de Shakespeare – Sonho de Uma Noite de Verão. Originalmente a peça é instrumental,  tendo sido apresentada em casamentos na versão com coro e orquestra.

Felix Mendelssohn (1809 – 1847)

As afamadas Marchas de Wagner e Mendelssohn começaram a ser difundidas e utilizadas em casamentos a partir do casamento real de Vitoria e Frederico, realizado na Capela Real do Palácio de St. James em Londres em 25 de janeiro de 1858, no qual eles utilizaram as duas marchas nupciais.

Cerimônia de casamento da Princesa Vitória– Capela Real do Palácio de St. James em Londres em 25 de janeiro de 1858

A Princesa Vitória escolheu a Marcha Nupcial de Wagner, que já havia sido tocada em um casamento real em 1842 para sua entrada na igreja e a Marcha Nupcial de Mendelssohn, tocada pela primeira vez em um casamento, para a saída do casal real.

A verdade é que a moda pegou. E mesmo depois de tantos anos, essas ainda são as Marchar Nupciais mais tocadas em casamentos até os dias de hoje, inclusive em casamentos no Brasil.

 Existe, no entanto, uma história curiosa por traz de uma Marcha Nupcial composta pelo brasileiro Antônio Carlos Gomes (1836-1896).

Antônio Carlos Gomes (1836-1896)

Carlos Gomes passou para história como grande operista: a ópera Il Guarany, escrita na língua italiana e baseada no romance homônimo do brasileiro José de Alencar (1829 – 1877) teve muito sucesso já em sua estreia, no famoso Teatro Scala de Milão, tornando-se, assim, o primeiro compositor brasileiro a alcançar sucesso na Europa, como destaca o musicólogo Bruno Kiefer:

“Numa época em que ainda se media a grandeza de uma nação pelos feitos de seus pensadores, cientistas, inventores, artistas e escritores, o êxito de Carlos Gomes era muito mais do que um sucesso individual: era a exaltação de um país recém-emancipado, preocupado em desenvolver as suas próprias potencialidades, em se afirmar perante as demais nações”. (KIEFER 1977, p. 83)

Mas a obra de Carlos Gomes vai muito além da famosa ópera. Dentre muitas peças significativas, ele deixou uma Marcha Nupcial para piano a quatro mãos.

Dedicatória na versão original da Marcha Nupcial de Carlos Gomes Acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Pasta M7862 –  G I 2

Composta no Rio de Janeiro em fevereiro de 1896, o ano de sua morte, a Marcha Nupcial, apresenta uma dedicatória assinada de próprio punho:

“Expressamente escrypta para solemnisar o feliz consórcio de d. Maria Dolores de Albuquerque Mello por Carlos Gomes. Rio de Janeiro”.

Segundo o historiador Vicente Salles, a Marcha Nupcial, foi escrita por encomenda do jornalista paraense Dr. Miguel Lúcio de Albuquerque Melo, amigo de Carlos Gomes, para o casamento de sua filha – certamente um dos últimos trabalhos do compositor. A peça não consta de seus catálogos conhecidos e foi editado por iniciativa do próprio Sr. Miguel Lúcio, como foi noticiado na imprensa na ocasião:

“O Paizdiz que a brilhante peça musical foi ‘primorosamente executada no dia do casamento da distintíssima senhora a quem era oferecida e distribuída aos convidados em rica edição expressamente feita pela família da noiva’”.

Além dessa inusitada edição, também existe uma partitura da Marcha Nupcial de Carlos Gomes editada pela Buschmann & Guimarães, e um dos exemplares encontra-se nos arquivos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, disponível para algum casal que queira inovar na tradição e experimentar uma marcha nupcial brasileira.

Ouviremos a Marcha Nupcial de Carlos Gomes para piano a quatro mãos interpretada pelo DUO MALTESE, mãe e filha: Ida Baianconi Maltese e Sylvia Maltese Moysés.

Observe como essa Marcha Nupcial é bem construída musicalmente, no entanto, permanece esquecida nas prateleiras da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

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DIA DO CHORO

uma homenagem à data de nascimento de Pixinguinha

DIA NACIONAL DO CHORO
Foto: Reprodução

Desde o ano 2000 esse estilo musical passou a ser celebrado em 23 de abril. Isso porque se acreditava que seria a data de aniversário do Compositor emblemático da música popular brasileira, Alfredo da Rocha Vianna Filho, mais conhecido como Pixinguinha (1897-1973), um dos precursores do choro.

Pesquisas recentes comprovaram que Pixinguinha nasceu em quatro de maio, a data comemorativa, no entanto, continua sendo 23 de abril.

 Há intensos debates sobre a natureza e a origem do choro. Alguns estudiosos do assunto discutem se o choro seria apenas um estilo de tocar ou um gênero musical próprio.

Chorinho – Candido Portinari, 1942

O pesquisador Alexandre Pinto, autor do livro Choro – Reminiscências dos Chorões Antigos:

“considera o choro uma forma de tocar diferentes gêneros musicais, inclusive de outros países”.

Já para outros pesquisadores, o choro é o primeiro estilo de música urbana do país, criado ainda no século 19.

O choro, ou chorinho, como é conhecido, é marcado por renomados nomes na história da música do Brasil, como: Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935),  Antônio Calado (1848 – 1880),  Anacleto de Medeiros(1866 – 1907), Jacob do Bandolim(1847 – 1935), Pixinguinha dentre outros.

Pixinguinha
por Amarildo –  chargista e editor de ilustração do Jornal Gazeta de Vitória

Porem, o compositor que carrega a homenagem do dia nacional do choro é Pixinguinha.

 “Pixinguinha” foi resultado do apelido colocado por sua avó Edwiges, africana de nascimento e derivado do dialeto natal: “Pizindin” que quer dizer, menino bomque depois virou Pixinguinha.

As primeiras lições de flauta foram dadas pelo pai, Alfredo da Rocha Vianna, Aos oito anos quando a família foi morar em um casarão, na Rua Vista Alegre, logo apelidado de “Pensão Viana”, pois estava sempre cheio de gente.

Com 12 anos Pixinguinha já dominava os conhecimentos de teoria musical. Nessa época, tocava flauta, cavaquinho e bandolim, mas sonhava com uma clarineta de sons agudos.

Na década de 40, Pixinguinha trocou a flauta pelo saxofone e se interessou pelo jazz. Tornou-se amigo de Louis Armstrong sem deixar de ser o senhor absoluto das rodas de choro.

Pixinguinha e Louis Armstrong 

Pixinguinha, que não foi só “chorão” teve uma movimentada e eclética carreira musical.  Em 1962, teve como parceiro Vinicius de Moraes na trilha sonora do filme “Sol Sobre a Lama”. 

Pixinguinha e Vinicius de Moraes

Segundo o Jornalista Lúcio Rangel:

“Em todas as suas manifestações de arte, Pixinguinha revela-se admirável, o que nos leva a afirmar, com toda a serenidade, estamos diante do maior músico popular que já tivemos em todas as épocas”.

Lamentavelmente, em 1964, sofreu um infarto. Curiosamente, enquanto esteve internado compôs vinte músicas, uma por dia, entre elas, as valsas: Solidão, Mais Quinze dias e No Elevador.

Pixinguinha disse:

“Hoje só quero saber de sossego e de viver em paz com todo mundo. Tenho medo que a morte me apanhe de surpresa

Pixinguinha

Pixinguinha faleceu no Rio de Janeiro, no dia 17 de fevereiro de 1973, mas sua obra o mantem vivo.

O autor da música “Carinhoso”, em parceria com João de Barro, considerada nosso  “segundo hino nacional”, é uma das canções mais lembradas pelos brasileiros.

Escrita por volta de 1917, segundo Pixinguinha“Carinhoso era uma polca lenta. Naquele tempo, tudo era polca. O andamento era esse de hoje. Por isso, eu chamei de polca-lenta ou polca vagarosa. Depois, passei a chamar de choro”.

Ouviremos “carinhoso”  interpretado pelo violonista Yamandú Costa (1980) em gravação de 2013. No vídeo o publico é quem canta o “segundo hino brasileiro”.

Observe a sintonia entre estrutura musical e narrativa poética. Não foi ao acaso a escolha de Pixinguinha como o representante da data comemorativa do dia Nacional do Choro.

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Czesława Kwoka  inspirou Paulo Guicheney

os horrores da guerra retratados em uma obra para piano 
Czesława Kwoka
fotografia de Wilhelm Brasse (1917 – 2012), originalmente em preto e branco colorida pela fotógrafa brasileira
Marina Amaral (1994)

As guerras são sempre um absurdo, e, estamos assistindo,  perplexos,  a mais uma batalha entre nações em pleno  2022.

A segunda guerra mundial deixou sequelas no planeta. O holocausto foi, sem dúvida, uma ferida incurável.

 O documentário “The Portraitist”, 2005  – (O Retratista) sobre o fotógrafo, Wilhelm Brasse (1917 – 2012), prisioneiro de Auschwitz cujas fotografias do interior do campo de concentração nazista forneceram um registro histórico dos horrores cometidos no local,  conta a história de três fotografias de uma menina de 14 anos, polonesa católica,  que foi assassinada, e  inspirou uma obra para piano do compositor goiano Paulo Guicheney (1975).

“The Portraitist”, 2005  

O fotógrafo Brasse foi enviado ao campo de concentração de Auschwitz  depois de ser pego em 1940 tentando fugir da Polônia ocupada pelos nazistas para se unir aos militares poloneses no exílio.

Quando seus carcereiros descobriram que ele era um fotógrafo experiente, determinaram que tirasse fotos dos prisioneiros para os arquivos internos da prisão e para registrar as visitas dos oficiais alemães do alto escalão para a posteridade, também recebendo ordens de fotografar experiências médicas do campo nos presos.

Os nazistas mataram 1,5 milhão de pessoas em Auschwitz. Entre os poucos registros fotográficos do campo da morte, as fotos de Brasse foram recuperadas dos arquivos nazistas no fim da Segunda Guerra Mundial e agora estão expostas no Museu de Auschwitz.

Czesława Kwoka – fotografia de Wilhelm Brasse (1917 – 2012) – expostas no Museu de Auschwitz

Em 2005, o diretor polonês Irek Dobrowolski (1964) lançou o documentário sobre a vida de Brasse, “Portrecista” , o qual inspirou Guicheney.

Paulo Guicheney  compõe para várias formações instrumentais. Sua obra vai muito além das fronteiras de Goiás, e tem sido executada  em diferentes países como Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Irlanda, México e Uruguai.

Paulo Guicheney (1975) , fotografado por Karol Rufino

Atualmente Guicheney está cursando o Doutorado em Musicologia na Universidade Nova de Lisboa em Portugal. Paulo é professor efetivo de composição da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás, além de escritor e autor do livro “Tempo de atirar pedras e dançar” (Martelo Casa Editorial).

Paulo conta que ao assistir o documentário do Retratista ficou muito impressionado com as imagens e com o fato de que quase nada restou da história da pequena Czesława Kwoka: Tanto ela quanto a sua breve trajetória se tornaram cinzas. Guicheney resgata essa história através de sua composição.

Curiosamente, o compositor recebeu uma encomenda do pianista brasileiro Jonathan de Oliveira (patrocinada pelo Centro MidAmerican para Música Contemporânea da Faculdade de Artes Musicais da Bowling Green State University) pouco tempo após assistir ao documentário, para compor uma obra para piano.

A princípio, ao compor a obra encomendada e que homenageia a triste história da menina polonesa, Guicheney  escreveu um poema para que fosse lido em uma das seções da peça, o nome da composição é um dos versos desse texto: “In this light without air” (Nesta luz sem ar).

Daughter

sister

mother

in this light without air

without your eyes

you breathe

no more

and while the Eternal sleeps

the sun is devoured by

black lungs.

p. guicheney

Modelo recorrente nas obras de Guicheney é o uso de taças como instrumento de percussão. Na última parte dessa obra, ele utilizou 5 taças de cristal. Segundo o compositor, a qualidade sonora deste momento se assemelha a sinos:

“não sei dizer se há algo programático nisto, talvez haja, talvez não”.

Paulo Guicheney (1975) — fotografado por Guilherme Bicalho

Guicheney também conta que apesar da simplicidade da peça, levou muito tempo para escrevê-la. Modificou várias vezes algumas seções e acabou abandonando várias ideias.

“A primeira versão tinha uma parte eletrônica que compus e abandonei. Não sei a razão para esta dificuldade, em geral eu escolho uma ideia e vou até o fim sem grandes titubeios”.

Parte do Manuscrito da obra de Paulo Guicheney

Ouviremos a peça para piano de Paulo Guicheney  – “In This Light Without Air” – Elegy for Czesława Kwoka (2021), apresentada em primeira audição pelo pianista Jonathan de Oliveira, no auditório da Faculdade de Artes Musicais da Bowling Green State University em Agosto de 2021.

Observe como a peça é clara e calma. Segundo o compositor :

“(…) tudo nela é cristalino, sem nenhum tipo de “violência”, de arrombo. Minha ideia foi a de fazer algo como um acalanto, uma elegia em forma de acalanto”.

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CRIANAÇAS PRODÍGIO NO ESPORTE E NA MÚSICA

paciência e a família em primeiro lugar

Will Smith, Jada Pinkett Smith  Ee Chris Rock

Nos últimos dias as atenções se voltaram para o Oscar,  e,  mais do que os ganhadores de cada categoria da maior premiação do cinema mundial, a cerimônia ficou marcada por outra razão: o tapa de Will Smith em Chris Rock após uma “brincadeira” de péssimo gosto.

Mas afinal, Will Smith, como no filme que protagonizou e venceu o Oscar de melhor ator, queria mesmo era proteger a família? Uma violência justifica a outra? Será justo Will Smith ficar 10 anos fora do Osacar?

 Em tempos onde a violência está em evidência, deixaremos as polêmicas à parte –  O filme –  King Richard: Criando Campeãs (2021), nos faz refletir sobre crianças geniais e a participação da família na defesa da integridade  e do desenvolvimento dessas crianças.

A Família Williams – “King Richard: Criando Campeãs”

Baseado em uma história real, o filme –  “King Richard: Criando Campeãs”, conta a jornada ao estrelato das afamadas tenistas Venus e Serena Williams.

No filme, embora os excessos e excentricidades de Richard, o pai das tenistas,  sejam destacados, ao final, garante-se que foi para o melhor. Caso a defesa do personagem não tenha ficado clara, os letreiros de conclusão garantem: 

“Richard seguiu colocando a paciência e a família em primeiro lugar”.

Como no esporte conhecemos outros casos semelhantes e verídicos na história da música.

O pai dos irmãos MozartLeopold  Mozart (1719-1787) quando percebeu a genialidade de Maria Anna Mozart (1751-1829) e   Amadeus Mozart (1756-1791) tratou de cuidar da carreira deles, levando as crianças em viagem  afim de exibir a genialidade dos pequenos para reis, príncipes, e outros membros da nobreza e do clero.  Leopold  Mozart é o pai de um dos compositores mais famosos da história da música ocidental – Wolfgang Amadeus Mozart.

Leopold, Amadeus e Maria Anna Mozart
Aquarela de Louis Carrogis der Carmontelle, 1763

Pai de Clara Schumann ( 1819 – 1896), Friedrich Wieck (1785 – 1873) foi um fiel defensor da filha.  Quando Clara tinha 4 anos, os pais se divorciaram, e posteriormente Friedrich ganhou a custódia da menina. Aos 5, Clara começou a ter lições de piano mediante a disciplina rígida do pai. A partir dos 13 anos desenvolveu uma brilhante carreira pianística, apresentando-se em vários palcos pela Europa.  Clara Josephine Wieck  Schumann foi  uma das poucas crianças prodígio a se manter famosa e reconhecida como virtuose do piano por toda a vida.

Clara Wieck, por Eduard Clemens Fechner, 1832

No Brasil, um exemplo de cuidado e esmero na educação dos filhos músicos, é do pai dos irmãos Martins, José Eduardo  e João Carlos, renomados pianistas.

José Eduardo  e João Carlos Martins
(acervo da família Martins)

José da Silva Martins (1898 – 2000)  pai dos pianistas José Eduardo, João Carlos Martins , do economista José Paulo Gandra da Silva Martins e do advogado Ives Gandra da Silva Martins,  foi dedicado, cuidadoso e rígido. José Martins fazia questão de repetir que seu método de educação criou quatro homens que se destacaram culturalmente.

Família Gandra da Silva Martins (acervo da família Martins)

Segundo relata um dos filhos, o pianista José Eduardo Martins:

“Meu pai foi um sábio. Uma figura humana que deixou saudades pelos exemplos de vida e dedicação à família. Criou os quatro filhos adolescentes, Ives, José Paulo, J.E. e João Carlos, numa disciplina espartana, era confiada uma resenha de capítulo de grande autor da língua portuguesa para que fizéssemos o resumo em uma  página pequena apenas, diariamente. Corrigia-a, orientava-nos quanto ao estilo e atribuía notas. Dizia o velho pai que o espírito de síntese é um dos maiores atributos do homem. Ao final de cada mês sua apreciação resultava em bônus que nós quatro convertemos em livros de nossa escolha. No último sábado do mês íamos até as livrarias do centro, Francisco Alves e Saraiva, ávidos para concretizar preferências. Seus milhares de LPs nos ajudaram na formação do gosto, a reconhecer estilos, a apreciar e distinguir interpretações. Os quatro filhos à noite ouvíamos um LP sem conhecer a capa do disco e tínhamos de descobrir o autor e obra. Inestimável contribuição à nossa formação cultural”.

A dedicação e a defesa da família foi  exitosa. Os filhos de José da Silva Martins são realmente pessoas de renome e destaque. José Paulo é um empresário de sucesso;  Ives Gandra é jurista, advogado, professor e escritor de grande relevância; José Eduardo, professor titular aposentado da Universidade de São Paulo, desenvolve brilhante carreira como pianista e pesquisador;  João Carlos é um pianista  reconhecido mundialmente.

Os filhos geniais de Richard Williams, Leopold Mozart, Friedrich Wieck e José da Silva Martins conseguiram atingir o sucesso almejado pelos pais. Valeu a pena? A defesa  e o cuidado rígido é primordial?

Cada um com a sua verdade, podemos refletir e ouvir os irmãos Martins –  pianistas brasileiros, educados por um pai dedicado  que conseguiram atingir sucesso em suas carreiras profissionais.

Ouviremos os irmãos João Carlos e José Eduardo Martins   interpretando Concerto para Dois Pianos e Orquestra em Dó Maior de J. S. Bach (1685 – 1750)

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“A VIDA INVISÍVEL”

um filme que nos convida a refletir sobre o papel das mulheres no mundo
Eurídice (Carol Duarte) no Filme “A VIDA INVÍSIVEL”

No mês das mulheres revisitaremos um tema já abordado em postagens anteriores – mulheres silenciadas na música.

Um exemplo claro de resistência foi a musicista carioca Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935). Chiquinha contrariou as normas vigentes, separou-se do marido, e, conseguiu, contra tudo e todos, impor-se ao realizar sua música fora da vida doméstica, tornando-se a primeira maestra a reger uma orquestra no Brasil.

Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935)

 Escolhemos um tema que trata da cruel invisibilidade de mulheres – o filme “A Vida Invisível” é uma coprodução Brasil/Alemanha, com adaptação do romance A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, da escritora pernambucana, Martha Batalha. O livro e o filme expõem o machismo estrutural e sua interferência na vida feminina.

Capa do Livro de Martha Batalha

O longa é uma história dramática e verossímil  enquanto possiblidade, com direção de Karim Aïnouz, produzido por Rodrigo Teixeira,  assistência de Nina Kopko e pesquisa de Suzane Jardim.

Julia Stockler; Karim Aïnouz e Carol Duarte

No filme as irmãs Eurídice e Guida, personagens centrais da trama,  são protagonizadas pelas atrizes Carol Duarte e Julia Stockle. O longa conta ainda  em seu elenco com a participação de Gregório Duvivier, António Fonseca, Flávia Gusmão,  Nikolas Antunes e a  participação especial do ícone das artes cênicas: Fernanda Montenegro.

“A VIDA INVÍSIVEL”

A história é passada no Rio de Janeiro de 1950, em época posterior a vivida por Chiquinha Gonzaga. Na narrativa Eurídice (Carol Duarte/Fernanda Montenegro) e Guida (Julia Stockler) são duas irmãs inseparáveis que moram com os pais em um lar conservador. Ambas têm um sonho: Eurídice o de se tornar uma pianista profissional e Guida de viver uma grande história de amor.

Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler)

Infelizmente, apesar de retratar o passado, é fácil enxergar acontecimentos semelhantes ainda na atualidade. Aliás, muito do que se chama a atenção no filme é sua capacidade de retratar a realidade de mulheres com vozes e vontades silenciadas.

Para quem ama música, Eurídice, uma das irmãs que sonha em ser pianista, faz prova de piano no histórico Salão Leopoldo Miguez da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, no decorrer do filme pode-se desfrutar da  trilha sonora assinada pelo alemão  Benedikt  Schiefer (1978) e ainda ouvir trechos de obras de J. S. Bach (1685 – 1750); Franz  Schubert (1797 – 1828); Frédéric Chopin (1810 – 1849);  Franz Liszt (1811 – 1886); Edvard Grieg (1843 – 1907); até  Fados interpretados pela  portuguesa Amália Rodrigues (1920 – 1999).

Trilha Sonora – – Benedikt  Schiefer (1978)

Vale a pena ver o filme que teve sua estreia mundial em de maio de 2019 em Cannes, sendo um dos premiados do Festival. Ao assistir esse  longa,  o expectador irá ver um trabalho excepcional de fotografia, direção de arte, som, montagem e uma trilha sonora exuberante.

Trilha Sonora – – Benedikt  Schiefer (1978) –

Como a música é nosso principal objetivo, ouviremos uma das obras apresentadas em trechos de  “Vidas Invisíveis”  –  De Frédéric Chopin (1810 – 1849);   Estudo Op 10  No.9  interpretado pela pianista ucraniana Valentina Lisitsa (1973).

 Observe a densidade de uma obra composta pelo polonês Chopin ainda na adolescência. Esse estudo faz parte dos 12 estudos pertencentes ao Op. 10. Os Estudos de Chopin não apenas apresentavam um conjunto inteiramente novo de desafios técnicos, mas foram os primeiros a se tornarem parte regular do repertório de concertos

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