GILBERTO GIL

O mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras
Gilberto Gil (1942)

No mês que celebra a consciência negra, um dos nomes mais importantes e premiados da música popular brasileira, incansável na valorização da cultura afro, Gilberto Gil (1942), foi eleito para ocupar a cadeira nº 20 da Academia Brasileira de Letras.

A eleição aconteceu no dia 11/11 sem a presença do cantor e compositor baiano que foi eleito com 21 votos. Assim falou Gilberto Gil:

“Quando a Academia me acolhe, acolhe aquele que ela sabe quem é. O apreço que eu tenho pela formação negro-mestiça da sociedade brasileira. Os problemas relativos a isso e a necessidade de posicionamento em relação a esses problemas, que tem sido uma constante na minha vida.”

Gilberto Gil concorreu com os escritores Salgado Maranhão e Ricardo Daunt à cadeira número 20 que pertencia ao jornalista Murilo Melo Filho.

Gilberto Gil

Após apuração, os votos foram queimados, como manda o ritual da instituição, e, nesse momento, Marco Lucchese, presidente da ABL,  se pronunciou:

“Estamos todos muito felizes. Gilberto Gil é esse traço de união entre a cultura erudita e a cultura popular, como poucos souberam fazer”.

Certamente, o mais novo imortal da ABL entra levando muito mais do que a credencial de escritor, Gilberto Gil leva riqueza cultural, traduzida em poesia e inspiração.

A Academia Brasileira de Letras, ao agraciar o compositor/poeta como novo acadêmico, repete o que a comissão julgadora do Premio Nobel da Literatura já havia feito em 2016 ao contemplar o cantor, compositor, ator, pintor e escritor Bob Dylan (1941) com o mais importante premio da liteeratura mundial.  

Bob Dylan (1941) recebe o mais importante premio da literatura mundial.  

O imortal Gilberto Gil, nos quase 80 anos de vida, sendo 60 dedicados à carreira, foi um dos criadores do movimento Tropicalista.

Em 1967, a música “Domingo no Parque”, que Gilberto Gil cantou com a também participação dos Mutantes, conjunto de grande sucesso à época, ficou em 2.º lugar no III FMPB.

Jorge Ben; Caetano Veloso; Gilberto Gil; Os Mutantes – (Rita Lee, Arnaldo Baptista, Sergio Dias) – e Gal Costa

O festival foi o ponto de partida para o movimento artístico chamado “Tropicalismo”, em que Gilberto Gil participou junto com Caetano Veloso, Torquato Neto, Tom Zé, Rogério Duprat, entre outros artistas.

A ideia do movimento tropicalista era a fusão de elementos da música inglesa e americana junto com as músicas de João Gilberto e Luiz Gonzaga. O movimento polêmico, em seu momento inicial, abriu portas para uma nova etapa na música popular brasileira.

Em 1968, o compositor lançou o disco “Gilberto Gil” com 14 músicas, entre elas, “Procissão” e “Domingo no Parque”. Lançou também um disco manifesto, intitulado “Tropicália” do qual participaram, além de Gilberto Gil, Caetano, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé e Torquato Neto.

Gilberto Gil, Caetano, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé e Torquato Neto.

O Movimento Tropicalista foi considerado subversivo pela ditadura militar e Gilberto Gil foi preso, junto com Caetano Veloso. Em 1969 Gil se exilou na Inglaterra. Nesse mesmo ano foi lançado o disco “Gilberto Gil” (1969), onde se destacou a música “Aquele Abraço”.

A obra foi à última música que Gil gravou no Brasil, um dia antes de partir para a Europa. “Aquele Abraço” foi o seu maior sucesso popular e tornou-se um samba de despedida.

No inicio de 1972, voltou definitivamente ao Brasil, em seguida lançou “Expresso 2222”. Em 1976, junto com Caetano, Gal e Betânia, formaram o conjunto “Doces Bárbaros” que rendeu um álbum e varias turnês pelo país.

Caetano Veloso, Betania, Gilberto Gil e Gal Costa – “Doces Bárbaros

Em 1978, se apresentou no Festival de Montreux, na Suíça. Nesse mesmo ano ganhou o Grammy de Melhor Álbum de Word Music com “Quanta Gente Veio Ver”. Em 1980, lançou uma versão em português do reggae (No Woman, No Cry) “Não Chores Mais”, sucesso de Bob Marley.

Entre os anos de 2003 e 2008, Gil foi Ministro da Cultura do Brasil.

“Sou um agente cultural por força do trabalho que faço, por força da representação que tenho. Essa palavra ‘cultura’, nesse sentido do cultivo da qualidade humana, da humanidade em cada um de nós, isso é um interesse que eu sempre tive” – Declarou Gil.

Gilberto Gil

Ainda em 2008, Gilberto Gil lançou o álbum “Banda Larga Cordel”. Em 2010, lançou “Fé na Festa”. Em seguida vieram: “Gilberto Samba” (2014) e “Ok Ok Ok” (2018).

Entre suas músicas mais famosas destacam-se ainda: “Não Chore Mais” (1979), “Andar com Fé” (1982), “Se Eu Quiser Falar Com Deus” (1981), “Vamos Fugir” (1984) e “Esperando na Janela” (2000), que recebeu o Grammy Latino: Melhor Canção Brasileira.

Gilberto Gil acaba de chegar de mais uma turnê na Europa, a primeira desde o começo da pandemia. Prepara-se agora para seu mais novo palco – a academia dos imortais.

Ouviremos “Refazenda” (1975)

Observe! Depois do experimentalismo da época do Tropicalismo Gil surpreendeu o público e a crítica com a sonoridade mais simples de Refazenda, inspirada no “baião”  e nos ritmos nordestinos. Segundo a crítica da época “tratava-se de uma falsa simplicidade, em que o músico se propunha a retomar elementos da tradição musical brasileira e transformá-los por meio de um ‘despojamento voluntário’”.

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 “GREEN BOOK: O GUIA”

música e preconceito
 “GREEN BOOK: O GUIA”

No mês da consciência negra, trataremos de música e preconceito. Na primeira crônica falaremos de um filme, ganhador do Oscar em 2019 que trata exatamente desse tema.

“Green Book: O Guia”  recebeu  três  estatuetas no Oscar 2019: melhor filme, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro original. Um filme que realmente vale a pena ser visto.

O título remete ao “The Negro Motorist Green Book”, também conhecido como “The Negro Travelers’ Green Book”, um guia publicado entre os anos de 1936 e 1966, com a função de ajudar afrodescendentes a encontrarem estabelecimentos nos quais fossem aceitos para hospedagem, alimentação e outros serviços e necessidades diárias sem afrontar o branco com a sua presença. Essa era a triste realidade na maior parte dos Estados Unidos dos anos sessenta.

“The Negro Travelers’ Green Book”

Green Book, conta a história real da amizade inesperada entre o pianista Don Shirley  e seu motorista Tony Lip,  O ator Viggo Mortensen dá vida em Tony Vallelonga, mais conhecido como Tony Lip, descendente de italianos, um tipo essencialmente urbano hábil em improvisar e resolver problemas pela vida.

O ator Viggo Mortensen dá vida em Tony Vallelonga

Mahershala Ali, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante, ilumina com perfeição o pianista virtuoso, Doutor Don Shirley, cuja vida longe do palco é um desafio permanente à sua sobrevivência e dignidade.

Mahershala Ali interpreta no cinema Dom Shirley

O longa vai nós deixando testemunhar passo a passo o nascimento da amizade entre estes dois homens com quase nada em comum. Os personagens faziam malabarismos a fim de se livrar da violência racial, resultando em vínculo único, com muito companheirismo, generosidade e sentido do humor.

Cena do filme Green Book

Na vida real, Donald Walbridge Shirley, também conhecido como Don Shirley, nasceu em janeiro de 1927, foi um pianista consagrado que buscou romper barreiras raciais em um  Estados Unidos segregador.

Filho de pais jamaicanos imigrantes, Shirley nasceu na Florida, iniciou as aulas de piano aos dois anos de idade com a mãe. Demonstrando enorme talento, aos 9 anos de idade, foi estudar com Mittolovski no Conservatório de Leningrado, sendo o único aluno negro desta instituição.

Donald Walbridge Shirley (1927 – 2013)

Shirley sonhava se tornar músico clássico, mas foi aconselhado seguir carreira tocando “música negra”.  “Um auditório nos EUA, jamais aceitaria um homem negro tocando Chopin”, seu músico favorito. Desta forma, apesar de tocar como solista em sinfonias de Chicago, Cleveland e Detroit, o verdadeiro Shirley acabou transitando entre a música clássica, o jazz e outros elementos da música pop para criar seu próprio gênero.

Uma das falas do músico no filme  foi retirada de uma entrevista onde ele revela seu tom crítico sobre os jazzistas:

“Eles fumam enquanto tocam, colocam o copo de whisky em cima do piano, depois ficam bravos quando não são respeitados como Arthur Rubinstein. Você não vê Arthur Rubinstein fumando e apoiando seu copo sob o piano (…)”, Entrevista para o  Jornal New York Times, 1982

Segundo a família, o título deveria ser: “Sinfonia de Mentiras”. No entanto,apesar das críticas de familiares de Don Shirley sobre a veracidade dos fatos relatados em uma história narrada e protagonizada por brancos, o pianista realmente saiu em turnê pelo Sul dos EUA para tocar em teatros e salas de visitas só para brancos, acompanhado de seu motorista e guarda costas Tony Lip, como retrata Green Book.

Também foi comprovado que o verdadeiro Don Shirley era um homem culto, elegante, refinado, dominava oito idiomas.

Sobre seu talento, assim se expressa o compositor Igor Stravinsky (1882 – 1971):

“Seu virtuosismo é digno dos deuses”.

O pianista americano nunca se referia a si mesmo como artista ou intérprete de jazz, mas sim como músico. Em entrevista para o jornal The New York Times disse:

“A experiência negra através da música com dignidade. Isto é tudo que tratei de fazer”.

O verdadeiro Dom Shirley morreu de complicações de doença cardíaca em sua casa na cidade de Nova York, acima do Carnegie Hall, em 6 de abril de 2013 aos 86 anos.  

Ouviremos Don Shirley tocando músicas apresentadas no filme “Green Book: O Guia”.

Observe o som refinado e o belo piano do verdadeiro Don Shirley.

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O ADEUS A NELSON FREIRE (1944 – 2021)

gênio do piano brasileiro
Nelson Freire (1944 – 2021)

Partiu na madrugada de segunda-feira (01/11), o pianista que considerava o piano como se fosse uma pessoa, que o acompanhava desde sempre.

Artista brasileiro universalmente consagrado, recebedor de honrarias em muitos países, convidado a tocar nas melhores salas de concerto do planeta, com as orquestras mais prestigiadas e os regentes mais em evidência.

De Nelson Freire (1944 – 2021) guardamos a lembrança de seu piano magistral. Em cada interpretação iluminava a obra com um inigualável poder de recriação. Sua arte era mesmo transcendental!

A partida de Freire fez chorar o mundo da música. Segundo o crítico francês Alain Lompech (1954):

“é possível encontrar três ou quatro pianistas tão excepcionais quanto Nelson Freire, mas ninguém encontrará um melhor”.

Tantas honrarias, contudo, não alteraram o caráter do menino nascido na pacata Boa Esperança, nas Minas Gerais. Desde a mais tenra infância já demonstrou incríveis sinais de seu talento musical e sua família, impressionada por suas capacidades, transferiu-se para o Rio de Janeiro quando ele tinha apenas cinco anos de idade, buscando uma educação musical de qualidade para o prodigioso menino.

Nelson Freire

Em entrevista para a Revista BRAVO Nelson Freire assim se posicionou:

(…)“aos 5 anos, minha família toda mudou-se para o Rio por minha causa. Foi uma transferência incrível, penso nisso até hoje, pois meus pais já tinham uma certa idade — meu pai tinha 46 anos, era farmacêutico em Boa Esperança e até mudou de profissão, foi ser gerente de banco, deixou a farmácia. Éramos 9 irmãos e havíamos passado a vida inteira numa cidadezinha pequena, agradável, onde todo o mundo se conhecia. Eu causei uma revolução na vida deles, e eles tiveram uma coragem enorme de fazer isso por causa de um menininho de 5 anos, mudar-se para o Rio de Janeiro, que era outro mundo, uma capital da República!”

Nelson Freire aos 10 anos

No Rio, Freire foi orientado por duas grandes educadoras, a gaúcha Nise Obino (1913 – 1995) e a paulista Lúcia Branco (1903 – 1973).

Nelson Freire; Luiz Eça; Lúcia Branco; Jacques Klein, Nise Obino e Moreira Lima (1956)
www.institutopianobrasileiro.com.br

“(…)Comecei muito cedo, e se nesse princípio eu tivesse sido mal orientado, poderia ter sido um menino prodígio explorado por professores”. Nelson Freire

Com Nise Obino,  Freire teve uma relação de amor. Ele era movido pelo amor pelas pessoas e pela música. Nelson repetiu em muitas entrevistas:  “Converso com a Nise todos os dias…”

Aos 12 anos, Nelson Freire foi  finalista no I Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro (1957),  examinado por pianistas como  Guiomar Novaes (1894 – 1979), pianista por ele sempre admirada e que compôs o júri na ocasião.

Após tão importante conquista, Freire recebeu do então presidente Juscelino Kubitschek (1902 – 1976) uma bolsa de estudos que o levou a Viena, onde estudou sob a orientação de Bruno Seidlhofer (1905 – 1982).

Finalista do I Concurso de Piano do Rio de Janeiro (1957). Da esquerda para a direita: Nelson Freire (com 12 anos na época, tocou o 1º mov. do Imperador de Beethoven na final); Giuseppe Postiglione (italiano, 2º lugar); Alexander Jenner (austríaco, 1º lugar); Sergei Dorensky (russo, 2º lugar); Claude Albert Coppens (belga, “Prêmio Villa-Lobos”); Fernando Lopes (brasileiro”melhor intérprete das mazurcas”); e Mikhail Voskresensky (russo). Acervo de Nelson Freire
www.institutopianobrasileiro.com.br
 

Ao chegar na Europa conheceu a pianista argentina Martha Argerich (1941). Amigos desde 1959, Marta e Nelson eram mais que amigos, eram confidentes, eram irmãos, eram almas gêmeas.

Nelson e Martha

Aos 19 anos conquistou o primeiro prêmio internacional,  no Concurso Internacional Vianna da Motta, em Lisboa, que lhe garantiu  a representação por uma importante agência de empresários musicais, Conciertos Daniel, com sede em Madri, fase em que  tocou em quase todos os países da América Latina e também na Espanha. Foi esse o período da descoberta da virtuose de Freire pela crítica internacional:

“o jovem leão do teclado”Times, Londres

“um dos maiores pianistas dessa ou de qualquer outra geração”.Revista Time, Nova York

Nelson Freire se tornou um artista consagrado internacionalmente. Gravou com importantes selos internacionais. Recebeu numerosas condecorações como a de Cidadão Carioca, Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, Légion d’Honneur, Comendador des Arts et des Lettres, Medalha Pedro Ernesto, Medalha da Cidade de Paris, Medalha da Cidade de Buenos Aires e o título de  doutor honoris causa pela Escola de Música da UFRJ.

Em 2003, o cineasta João Moreira Salles estreou o documentário “Nelson Freire”  – um filme sobre um homem e sua música. Ao saber da partida de Nelson Freire, assim falou:

“Os documentários que eu vinha fazendo até então tratavam de desordem, de violência e de desagregação. Tive vontade de filmar o contrário daquilo e Nelson foi o caminho. Ele encarnava valores de um humanismo essencial a todo projeto de civilização decente – a transmissão da beleza, o imperativo moral do trabalho bem feito, a recusa de toda vulgaridade e espalhafato. Um presidente que tira a máscara de um bebê e força uma criança a fazer uma arma com as mãos é uma imagem verdadeira e poderosa do país. Mas não é a única. Nelson Freire, o pianista, não o filme, representava e representa – nos discos, nos registros dos concertos, na vida discreta que levou -uma outra face do Brasil, o lado capaz de nos salvar. Seu talento não está ao alcance de maioria de nós, mas a decência, sim.”

documentário “Nelson Freire”

O mundo da música não será o mesmo sem o piano de Nelson Freire. Mas, como ele mesmo disse:

A música tem esse poder de transmissão universal, talvez por ser etérea, não se pode segurar a música, ela precisa ser ouvida”.

Ouviremos Nelson Freire interpretando a Sonata ao Luar (n. 14) de Ludwig  van Beethoven (1770 – 1827) em gravação de 2009 no Festival de Inverno de Campos do Jordão-SP.

Observe a interpretação magistral dessa famosa Sonata. Ouvir Nelson Freire é sempre um ato de amor.

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44º FESTIVAL INTERNACIONAL DE MÚSICA BELKISS S. CARNEIRO DE MENDONÇA

O festival de música mais antigo em edições contínuas no Brasil
44º FEstival Internacional de Música Belkiss S. Carneiro de Mendonça

Já se vão 43 Festivais de Música promovidos pela Universidade Federal de Goiás. Eventos realizados em Goiânia que contam parte da história da música em Goiás. 

Desde sua primeira versão, como I Festival de Música Erudita do Estado de Goiás, os festivais trouxeram para Goiânia, reconhecidos nomes do cenário brasileiro e internacional: instrumentistas, cantores, compositores, regentes e educadores musicais, que deixaram sua marca na formação dos músicos em Goiás.

O Festival de Música promovido pela EMAC/UFG é o evento do gênero mais antigo do Brasil, realizado desde 1964 aos dias atuais;

Segundo a professora Maria Helena Jayme Borges:

“O grande acontecimento de 1964 foi a realização do I Festival de Música Erudita do Estado de Goiás de 19 a 27 de setembro. Os professores, alunos e servidores do Conservatório, compreendendo o alto sentido e as vantagens pedagógicas e sociais daquele evento, não mediram esforços para realização do festival, sendo essa a primeira vez que empreenderam um trabalho de tamanho vulto”.

O I Festival trouxe para Goiânia a regente e compositora carioca Maria Luiza de Mattos Priolli (1915 – 2000), ministrando o curso de Análise e Didática do Ritmo e Som; o renomado pianista Arnaldo Estrela (1908 -1980), o curso de Didática do piano e interpretação pianística e o compositor e musicólogo alemão naturalizado brasileiro  Bruno Kieffer (1923 – 1987), ministrando os cursos de Apreciação musical, Estética e História da Música.

Arnaldo Estrela (1908 -1980), Maria Luiza de Mattos Priolli (1915 – 2000) e Bruno Kieffer (1923 – 1987)

Além de cursos, a primeira versão do Festival ofereceu ao público goiano recitais com a participação dos violinistas Nathan Schuwartzmann e Mariuccia Iaconino, das pianistas Belkiss, Arnaldo Estrella e Heloisa Barra, da Mezzo Soprano Honorina Barra, do flautista Lenir Siqueira, do oboísta Paulo Nardhi, do clarinetista José Botelho, do trompista Jairo Ribeiro, do fagotista Noel Devos e ainda contou com a presença Maestro Isaac Karabtchewsky regendo o Madrigal Renascentista.

Isaac Karabtchevsky | immub.org
Maestro Isaac Karabtchewsky

Não por acaso, atualmente o Festival leva o nome de sua idealizadora, a musicista goiana Belkiss S Carneiro de Mendonça (1928 – 2005).

Belkiss S Carneiro de Mendonça (1928 – 2005).

Musicista reconhecida internacionalmente, Belkiss Spenzièri projetou o Brasil com seus concertos, sempre valorizando e divulgando a música brasileira. O festival que a homenageia será realizado pela Universidade Federal de Goiás através da Escola de Música e Artes Cênicas entre os dias 24 a 27 de outubro de 2021 no formato on-line. Um presente para os 88 anos de Goiânia.

No dia do aniversário de Goiânia (24 de outubro) haverá uma cerimonia de abertura com um recital de professores convidados e professores da casa, com transmissões pelo canal do YouTube da Escola de Música e Artes Cênicas da UFG (informações detalhadas no site http://www.emac.ufg.br)

Recital de Abertura

Relembrando a pianista que dá nome ao festival, ouviremos a LP Belkiss Carneiro de Mendonça (Copacabana COLP 12.550), lançado em 1980, Disponibilizado no YouTube pelo Instituto Piano Brasileiro – IPB.

Belkiss Carneiro de Mendonça

 Observe a interpretação precisa e brilhante da pianista Belkiss

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HOMENAGEM AO DIA DO PROFESSOR

Glacy Antunes de Oliveira
Professora Glacy Antunes de Oliveira

Marcado como o Dia do Professor, o dia 15 de outubro foi criado com o intuito de homenagear esse profissional de grande importância no desenvolvimento do ser humano.

A data é celebrada  em referência a d. Pedro I, que, no dia 15 de outubro de 1827, emitiu uma lei sobre o Ensino Elementar, definindo que todas as cidades do Brasil deveriam ter Escolas de Primeiras Letras (Ensino Fundamental).

Após um século desta lei imperial, Salomão Becker,  professor do estado de São Paulo e autor da frase “professor é profissão, educador é missão”,  decidiu utilizar a data 15 de outubro como o momento oportuno para estabelecer um dia de folga a esses profissionais tão atarefados. De sua ideia se organizou uma confraternização entre professores e alunos. A proposta do Professor acabou sendo bem recebida e inspirou celebrações semelhantes.

O 15 de Outubro foi oficializado no Brasil, em 1948, como data comemorativa e feriado no estado de Santa Catarina, e, em 14 de outubro de 1963, por meio do decreto federal nº 52.682, foi criado o Dia do Professor em todo o país pelo Presidente João Goulart.  Internacionalmente se celebra o Dia Mundial do Professor em 5 de outubro.

Escolhemos homenagear neste 15 de outubro uma professora na área de música – a professora e pianista Glacy Antunes de Oliveira.

Glacy Antunes de Oliveira (1984)
Revista Goiana de Artes, 5(1): 113-132, jan./jun. 1984

Sensível, determinada, criativa. Em busca de seus sonhos, aproveitou o impulso e apoio convincentes da família, agarrou e potencializou as oportunidades que a Universidade Federal de Goiás lhe proporcionou, quer como docente quer como administradora ou como pianista, por todo o Brasil e também no exterior.

Segundo Glacy:

“Vem sempre à minha mente a figura calma e firme da minha mãe que, embora me trouxesse biscoitos e bolinhos, mantinha-me por várias horas ao piano pois, como dizia ‘… seus professores afirmam que você tem grande talento; cabe a mim, ensinar-lhe disciplina, determinação, minúcia e paciência …’.”

A menina talentosa tornou-se Professora Titular na Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás,  fazendo uma verdadeira revolução à frente dessa escola.

Enquanto diretora e membro do Conselho Universitário uniu o corpo docente em prol do crescimento da instituição, criou cursos de graduação, especialização e mestrado. Igualmente, trouxe eventos artísticos e científicos internacionais para Goiânia, elevando o patamar da Escola perante a Universidade e ao Brasil. Depois de sua gestão a EMAC é considerada pelos órgãos medidores do ranking nacional como uma das melhores escolas de música do país.

Em curto espaço de tempo à frente da cultura do município, quando Secretária de Cultura, mostrou o que é possível realizar em uma instituição pública.

A sempre inovadora e destemida Galcy conta:

Minha queda por inovações manifestou-se quando da formatura da minha turma no Conservatório – Yara Moreyra, Maria Augusta Callado, Acy Taveira, Jodelmi Camilo, Dalva Albernaz…. Tive a audácia de telefonar para o Maestro Camargo Guarnieri, convidando-o para paraninfo; o notável compositor aceitou, dando início a uma profícua relação não só com a UFG mas também com a Música e músicos de Goiás- (anos depois, recebeu o título de Doutor Honoris Causa concedido pela UFG)“.

Formatura no Conservatório Goiano de Música (1960)
Yara Moreyra; Glacy Antunes; Maestro Camargo Guarnieri
Acervo Yara Moreyra

Como Professora de Piano e Música de Câmara, orientou incontável número de pianistas, hoje atuantes como professores, solistas e cameristas pelo mundo.

Foi fundadora do MVSIKA, Centro de Estudos, reconhecido por especialistas como um marco no Brasil quanto à Didática da Música, do Teatro, da Dança, das Artes Integradas.

Detentora de inúmeros prêmios, a pianista Glacy tem se apresentado como solista e camerista ao lado do Maestro e flautista Norton Morozowic.

Glacy Antunes, piano – Norton Morozowicz, flauta

Em 2019 Glacy Antunes de Oliveira  foi agraciada com o Título de Professora Emérita da Universidade Federal de Goiás. Em seus quase sessenta anos de existência, a UFG conferiu esta honraria, à Pianista Belkiss S. Carneiro de Mendonça,  a Maestrina Maria Lucy Veiga Teixeira (Dona Fífia),  e,   em 10 de junho de 2019 à Professora e Pianista Glacy Antunes de Oliveira.

Profa. Glacy Antunes de Oliveria recebendo o Título do Magnífico Reitor Prof. Edward Madureira (2019)

Segundo o renomado compositor Ronaldo Miranda:

“Glacy tem o seu nome inscrito na consistente escola pianística de Goiás, como ex-aluna de Belkiss Carneiro de Mendonça e como professora exemplar de uma plêiade de jovens pianistas brasileiros”.

Glacy é uma daquelas mulheres que não conhece a palavra impossível. E, por onde passa faz total diferença! Realiza, incentiva, acolhe, fazendo a música e as pessoas melhores por onde passa.

Ouviremos uma restauração do Concerto para piano n.5  em mi maior, opus 73,  conhecido como Concerto do Imperador de L. van Beethoven,  com a pianista Glacy Antunes de Oliveira de fragmentos de reportagens sobre o Festival de Música de Blumenau em 1990, sob a Direção Artística de Norton Morozowicz, com a Orquestra de Câmara de Blumenau e renomados professores e músicos convidados que integraram a orquestra do Festival.

Observe os aspectos militares e simbólicos do Concerto Imperador que caracterizam seu estilo heróico interpretado pela grande pianista Glacy Antunes de Oilveira

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DIA DO COMPOSITOR BRASILEIRO

uma criação de Herivelto Martins
Herivelto Martins (1912 – 1992)

Anualmente no dia  7 de outubro celebra-se  o Dia do Compositor Brasileiro. 

A data foi criada em 1948 pelo compositor Herivelto Martins (1912 – 1992), que integrou a União Brasileira dos Compositores (UBC) na década de 40.

O cantor e compositor, foi grande incentivador da música brasileira e colaborou grandemente para a valorização dos músicos no país.

Segundo sua filha, a atriz  Yaçanã Martins:

Yaçanã Martins (1954)

“Ele não só criou a data como fundou a União Brasileira de Compositores e ajudou a regulamentar a profissão. Pixinguinha cruzava com ele na rua e dizia: ‘devo a minha aposentadoria a esse homem’.

Herivelto Martins , compositor de vasta obra, tem sua carreira consolidada com a difusão do rádio,  expansão da indústria fonográfica e do cinema falado.

O Rio de Janeiro vivia o auge cultural reunindo renomados artistas.  Herivelto afirma-se como compositor, ao lado de Noel Rosa, Ary Barroso, João de Barro e Lamartine Babo.

Segundo Zuza Homem de Melo:

“ao integrar o coro da RCA Victor no início dos anos 1930, fica conhecido pelo hábito de introduzir breques nas gravações”

Foi na RCA que Herivelto conheceu seu parceiro Francisco Sena. Juntos formaram o Duo Preto e Branco cuja qualidade vocal chamava atenção da crítica especializada . É uma das primeiras formações a cantar em dueto, se diferenciando do esquema “pergunta e resposta”, muito comum na época.

Francisco Sena (1900 – 1935) e Herivelto Martins (1912 – 1992)

No fim dos anos 1930, após a morte de Sena e sua substituição por Nilo Chagas, Herivelto conhece Dalva de Oliveira, com quem se casa e tem uma conturbada relação amorosa.

Trio de Ouro – Nilo Chagas, Herivelto e Dalva de Oliveira

Com Dalva (1917 – 1972) e Nilo Chagas (1917 – 1973), forma o conjunto vocal Trio de Ouro, que inova, mais uma vez, ao trazer duas vozes masculinas e uma feminina.

As brigas conjugais entre Herivelto e Dalva atingem a mesma repercussão do sucesso do Trio de Ouro, e os jornais e revistas, ligados à crônica do meio artístico, noticiam os ataques mútuos do casal que  troca acusações por meio de sambas-canções.

Um dos grandes sucessos do compositor Herivelto é Ave Maria no Morro(1942). A composição está entre uma das obras da música popular brasileira mais gravadas.

Nos anos 1960, mesmo considerada uma heresia pelo  então cardeal Sebastião Leme, passa a ser cantada nas missas. Entre os intérpretes dessa canção estão Sarita Montiel, Wilson Simonal, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto, Gal Costa, Baby Consuelo, Milton Banana e Eduardo Araújo, Emilio Santiago e Pery Ribeiro, filho do casal  Dalva de Oliveira  e Herivelto Martins.

Pery Ribeiro (1937 – 2012)

Ouviremos Ave Maria no Morro interpretado por Pery Ribeiro; orquestra e coro sob a direção do Maestro Norton Morozowicz e direção Geral Helio Brandão (gravação em Curitiba – Teatro Positivo, 2010).

Observe! Ave Maria no Morro é um samba-canção, espécie de oração, que traduz a vida nos morros cariocas.

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JÁ VEM CHEGANDO A PRIMAVERA

obra coral de Henrique de Curitiba

Ipê Amarelo (Goiânia – Goiás)

A primavera é uma das quatro estações do ano. Ela ocorre após o inverno e antes do verão. No Brasil, ela tem início em 22 de setembro e termina no dia 21 de dezembro. É um período no qual ocorre o florescimento de várias espécies de plantas, a natureza fica bela, presenteando o ser humano com “tantas lindas flores, mil aromas no jardim”…

O renomado compositor brasileiro Henrique de Curitiba (1934-2008), que tinha certa predileção pela música coral, anunciava a chegada da primavera em uma obra escrita para coro intitulada “Vem chegando a primavera”, composta em 1994 e revista pelo autor em 1998.

Henrique de Curitiba (1934 – 2008)

Nascido em uma família de artistas, tanto ele quanto os irmãos Norton e Milena Morozowicz são nomes consagrados internacionalmente. A avó Natalia Morozowicz foi atriz na Polônia, a mãe, Wanda Lechowski, era pianista amadora, e, o pai, Tadeu Morozowicz, bailarino e coreógrafo formado no Teatro Nacional de Varsóvia e na Escola Imperial de Ballet de Saint Petersburg, na Rússia. Professor Tadeu foi o criador do primeiro curso de ballet do Paraná, na Sociedade Thalia, em Curitiba.

Wanda, Milena, Tadeu e Henrique

Vivendo a maior parte de sua vida na capital paranaense, passou por diversas cidades e países, inclusive Goiânia, onde morou por alguns anos. Compôs, ao longo de sua vida, mais de 150 obras. Com uma produção consistente, é considerado: “um de nossos melhores compositores neoclássicos”.


Henrique e a avó Natalia Morozowicz na Polônia

A última obra escrita por Curitiba antes de sua morte foi uma obra coral, O Verão, parte do esboço para a Suíte Coral – Quatro Estações.

Em conversa informal, que mantivemos em janeiro de 2008 em Curitiba, Henrique contou que a Suíte das Estações estava sendo concluída e seria integrada por Já vem a Primavera (1994), Outono Dolente (2007) e O Verão (2008).

Curiosamente, o inverno era estação que Henrique não apreciava.  Sua partida em fevereiro de 2008, impossibilitou a composição da obra Inverno. A Suíte das Estações findou no Outono Dolente.

O Maestro  Samuel Kerr disse:

“Sempre, encarando o coro como um organismo vivo e sempre abrindo espaço para a criatividade, Henrique agiu como homem de seu tempo, sensível às transformações e preocupando em criar uma música que fosse amada pelo executante e fruída pelo ouvinte”

 “Já vem a Primavera”, anuncia de forma magistral a estação que ora se inicia.

Ouviremos a interpretação do coro estadunidense “San Francisco Chamber Choir” sob a regência do maestro Johua Habermann com edição do Maestro Norton Morozowicz.

Henrique e Norton Morozowicz

Observe a beleza da sonoridade e o refinamento dessa interpretação.

Viva a Primavera! Que ela traga além de belas flores no jardim , CHUVA!

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O DIA DO FREVO

14 de Setembro – Dia Nacional do Frevo

“Frevo Dança de Carnaval” – Cândido Portinari

O Dia Nacional do Frevo é comemorado em 14 de Setembro, em homenagem ao jornalista Osvaldo da Silva Almeida, que foi, segundo pesquisas, o criador da palavra Frevo, tendo sido escolhido a sua data de nascimento, 14 de Setembro de 1882 como a data de homenagem.

Vale ressaltar, no entanto, outra data comemorativa para o Frevo: 9 de fevereiro, em função de ser a data em que historiadores identificaram a primeira aparição da palavra frevo, em 1907.

Dança folclórica típica do carnaval de rua, o frevo é uma das principais danças tradicionais brasileiras e uma das manifestações culturais mais conhecidas na região nordeste do Brasil, se destacando principalmente no carnaval das cidades pernambucanas – Olinda e Recife.

Olinda – Pernambuco

Segundo historiadores, o Frevo tem origem no século XIX em Pernambuco, onde surgiu da rivalidade entre as bandas militares e os folguedos de escravos libertos.

Muito executado durante o carnaval, eram comuns conflitos entre blocos de frevo, em que capoeiristas saíam à frente dos seus blocos para intimidar blocos rivais e proteger seu estandarte.

Heitor dos Prazeres (1889-1966)

A dança frenética, de ritmo muito acelerado surgiu em um tempo histórico igualmente agitado em termos políticos e sociais, quando se vivenciava o momento pós-abolicionista. 

Os passos do frevo são bem complicados, usa-se uma sombrinha ou guarda-chuva aberto enquanto se dança para manter o equilíbrio.

sombrinhas

Usados como armas de ataque e defesa durante os blocos de rua que saíam pelas ruas de Recife, segundo historiadores, os porretes foram os precursores das graciosas sombrinhas que passaram a se associar indistintamente ao frevo.

De acordo com o historiador Junior Viegas, foi o aumento da presença das mulheres no  Carnaval que levou as sombrinhas a diminuírem de tamanho e se tornarem adereços da folia, pintadas com as cores da bandeira de Pernambuco. Logo, a presença das sombrinhas também se incorporou à dança.

“Frevo” – Candido Portinari

 O frevo é tocado, podendo em alguns casos, ser cantado. Há ainda uma forma mais lenta de frevo que é chamada de “frevo canção” ou “frevo de bloco”.

Não se sabe, ao certo, se o Frevo surgiu primeiro como dança ou como música. Valdemar Oliveira, autor da Publicação “Frevo, Capoeira e Passo” (1942) afirma:

“Creio que não há no mundo um binário tão sacudido, tão pessoal, tão típico como o frevo, nem dança tão estranha e tão expressiva pelos seus modos como o passo”.

Para comemorar o dia Nacional do Frevo que ocorreu ainda essa semana, ouviremos o Frevo (para piano a quatro mãos) do compositor brasileiro Ronaldo Miranda (1948) interpretado pelo Duo Bretas-Kevorkian.

Ronaldo Miranda (1948)

A obra foi composta em 2004, por encomenda do Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro para o Projeto “Do Outro Lado do Carnaval”, com objetivo de mostrar a música de concerto no contexto do carnaval

Observe que FREVO vem do vocábulo “Frever” ou ferver, em alusão ao comportamento da multidão, dançando ao som das sincopas contagiantes desta dança carnavalesca. A linguagem harmônica da obra revela a maturidade de Ronaldo Miranda, utilizando livre combinação de elementos tais como: politonalismo, modalismo e o emprego de estruturas quartais.

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SIGISMUND NEUKOMM (1778-1858)

A chegada da corte ao Rio de Janeiro e a nova maneira de observar o mundo das artes
Sigsmund Neukomm(1778-1858).

Embora a comitiva real tenha sido recebida com grande festa, o Rio de Janeiro não estava preparado para atender toda a estrutura da corte. Dom João VI precisou implementar inúmeras medidas para tornar a capital do império uma cidade habitável para sua corte.

Chegada do Príncipe D. João, da família real e da Corte à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, missa comemorativa da chegada ao RJ
Óleo sobre tela. Armando Martins Viana. Século XX. Museu da Cidade, Rio de Janeiro

Quando a Família Real Portuguesa adentrou a Baia de Guanabara em 1808, o Rio de Janeiro era uma cidade colonial de população diversificada, ruas estreitas e vida cultural escassa.

O grupo que acompanhou o Rei nesse trajeto era bem diverso e nele também estavam artistas europeus que passaram a influenciar o estilo e as práticas de músicos coloniais, construindo uma nova percepção do gosto e uma nova maneira de observar o mundo das artes.

A pedido de Dom João VI, Antônio de Araújo Azevedo, o Conde da Barca, idealizou a Missão Artística Francesa, com o propósito de fundar a Real Escola de Belas Artes.

Academia Real de Belas Artes, projetado por Grandjean de Montigny
 Visto em três diferentes épocas
o aspecto do edifício em 1826, quando contava somente com o andar térreo; vista mais acima, aparece com um segundo andar acrescentado; o edifício é visto em sua última aparência, antes da demolição, com alguns acréscimos configurando um terceiro pavimento

A  missão artística, composta por personalidades de reconhecido talento, os pintores Jean Debret (1768-1848) e Nicolas Antoine Taunay (1755-1830), escultores como Auguste Taunay (1768-1824) e arquitetos como Grandjean de Montigny (1777-1850), entre outros, desembarcaram no Rio de Janeiro em 1816

Passados poucos meses do desembarque no Rio de Janeiro da “missão artística” francesa, aporta em terras brasileiras outra comitiva francesa, a do Duque de Luxemburgo, que tinha como um de seus objetivos o restabelecimento das relações franco-portuguesas. Junto com os diplomatas ligados ao Duque de Luxemburgo vieram também o naturalista Auguste de Saint Hilaire (1779-1853) e o compositor Sigsmund Neukomm(1778-1858).

Retrato de Augusto de Saint Hilaire(1779-1853)
 óleo sobre tela – Henrique Manzo(1896 – 1982)
Acervo do Museu Paulista da USP

O compositor austríaco Sigismund Neukomm foi um dos músicos europeus que deixou sua marca e influenciou a música brasileira.

Sigsmund Neukomm(1778-1858)

A circulação de músicos estrangeiros no Rio de Janeiro joanino foi importante para o estabelecimento de uma prática de corte, para sustentar a demanda de música e, sobretudo, ajudar a constituir um novo gosto, baseado em práticas cortesãs. (MONTEIRO, 2008, p. 61)

Sigismund Ritter Neukomm nasceu em Salzburg em 10 de julho de 1778 e teve como professor de música Joseph Haydn (1732-1809). Permaneceu no Brasil entre os anos de 1816 e 1820. Ministrava aulas de música para a Família Real e para membros da elite carioca. Admirava e ajudava talentos brasileiros como Padre José Mauricio Nunes Garcia(1767-1830) e Francisco Manuel da Silva(1795 -1865).

O envolvimento de Neukomm com as práticas musicais brasileiras exerceu influência tanto em sua própria obra, como   na vida artística do Rio de Janeiro joanino.

 Ouviremos do compositor austríaco, obra composta em 1819, no Rio de Janeiro, intitulada  O Amor Brasileiro –  capricho para pianoforte sobre um lundu brasileiro interpretada pelo pianista carioca Arnaldo Estrella (1908 -1980).

Retrato do Pianista Arnaldo Estrella(1908 -1980)
Nanquim sobre papel, 1942
Arpad Szenes (1897 – 1985)
 

Observe o amalgama cultural entre o Brasil colonizado e a cultura colonizadora.

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HINO NACIONAL BRASILEIRO

curiosidades


Hino Nacional Brasileiro

Hino Nacional Brasileiro é um dos quatro símbolos oficiais da República Federativa do Brasil.

Hino Nacional Brasileiro que conhecemos hoje, não foi composto com a essa finalidade. A melodia de Francisco Manoel da Silva (1785-1865), que tem letra de Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927), foi incorporada ao hino original cerca de quarenta e quatro anos após a morte do compositor da melodia.


“O maestro Francisco Manuel ditando o Hino Nacional
Óleo sobre tela (1850) por  José Correia de Lima  (1814 -1857)

O maestro e compositor Francisco Manoel da Silva nasceu no Rio de Janeiro e deixou boa quantidade de obras, que estão espalhadas em arquivos cariocas, mineiros e paulistas e abrangem música sacra, modinhas e lundus, além do famoso Hino Nacional Brasileiro.

Francisco Manoel teve grande destaque na vida musical do Rio de Janeiro no período compreendido entre a morte de Padre José Maurício Nunes Garcia (1830) e o apogeu de Carlos Gomes (Segundo Império), e muito contribuiu para a história da música no Brasil, pois fundou, entre outras instituições, o Conservatório Imperial de Música(1848). 


Museu Nacional, onde funcionou o Conservatório de Música de 1848 a 1854,
Campo da Aclamação, atual Praça da República.
 

Quando, em 7 de abril de 1831, D. Pedro I (1798-1834) foi  aconselhado a renunciar e abdicar do trono em favor de seu filho Pedro II (1825-1891), a época com apenas 5 anos de idade, Francisco Manoel compôs a música do atual hino que, em primeira execução, apareceu com letra de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva.

Em 1841, na coroação de Pedro II, esse hino foi executado novamente, com letra diferente da primeira – e de autor desconhecido. A melodia seguiu sendo executada sem letra, em solenidades civis e militares, até a Proclamação da República em 1889

Coroação de Pedro II, 18 de dezembro de 1841

Considerando uma herança do Império, em janeiro de 1890,  houve um concurso, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, para a escolha, entre 29 candidatos, de um novo Hino Nacional Brasileiro que representasse a República Brasileira.

O vencedor do concurso foi Leopoldo Miguéz (1850-1941). Curiosamente, depois de executados os hinos concorrentes e escolhida a obra de Miguéz, o proclamador da República, Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), preferiu o Hino de Francisco Manoel e o manteve como Hino Nacional apresentado sem letra.

Leopoldo Miguéz (1850-1941)

Deodoro da Fonseca  decidiu então que ao vencedor da música, Leopoldo Miguéz, e letra, José Joaquim Medeiros e Albuquerque, caberia o título de “Hino da Proclamação da República”. O Brasil passava então a ter o seu hino oficializado, porém, de forma incompleta, pois, faltava-lhe a letra.

Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892)

Assim, oficializado o concurso, foi assinado o Decreto n° 171, de 20.01.1890, que conservava o “Hino Nacional” e adotava o “Hino da Proclamação da República”.

Tal situação permaneceria ignorada até julho de 1909, quando o governo instituiu um novo concurso “para escolha de uma composição poética a se adaptar com todo o rigor à melodia do Hino Nacional”.

O vencedor desse concurso foi o poeta Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927) que ainda esperaria vários anos para afinal ser declarada oficialmente a letra do “Hino Nacional Brasileiro”, pelo Decreto n°15.671, de 06.09.1922.  

 Ouviremos uma gravação histórica da música de Francisco Manoel da Silva com letra de autor desconhecido utilizado na celebração nacional, em 1840, na coroação do jovem dom Pedro II de Bragança.

Observe, foi um hino tão representativo do império, que até os dias de hoje, é um dos símbolos oficiais da República Federativa do Brasil.

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