A dama da flauta transversal no Brasil

Odette Ernest Dias (1929)
A grande dama da flauta transversal: Odette Ernest Dias – Flautista, pedagoga, pesquisadora, é uma das artistas mais importantes da atualidade. Vai completar no próximo dia 02 de fevereiro 92 anos, e, continua em plena atividade, exalando seu amor pela MÚSICA.
Odette revela:
“Nunca abro a caixa do meu instrumento sem prazer”.

Odette e quatro de seus seis filhos: Andrea e Claudia (flautistas), Carlos (oboísta) e Jaime (violonista). E ainda as netas Clarice Nicioli (flautista), Bebel e Joana Nicioli (clarinetistas), o genro Raimundo Nicioli (violonista), as noras Liliana Gayoso e Luiza Volpini (violinistas), e os netos Miguel Dias (baixista) e Lourenço Vasconcellos (percussionista), com sua companheira Renata Neves (violinista)
Odette nasceu em Paris, seu pai, oriundo das Ilhas Maurício e sua mãe, nascida na Alsácia. Segundo palestra proferida pela flautista na Academia Brasileira de Música (ABM), foi à origem francesa que permitiu que ela “sentisse melhor o Brasil”.
Em 1952, a francesa Marie Thérèse Odette Ernest (1929) veio para o Brasil, convidada pelo Maestro Eleazar de Carvalho (1912 – 1996) para fazer parte da Orquestra Sinfônica Nacional. Integrou as orquestras da Rádio Tupi, da Rádio Mayrink Veiga, da Rádio Nacional e da TV Globo. Participou de gravações com inúmeros artistas da música popular. Exerceu as funções de solista de orquestra, recitalista e camerista. Fundou a Camerata do Rio. Atuou como professora da Pró-Arte (RJ) e ainda leciona no Conservatório Brasileiro de Música.

No Rio de Janeiro, Odette conheceu a música brasileira e a ela se integrou. Segundo a flautista:
(…) “quando conheci Pixinguinha (…) foi uma coisa incrível e me fascinou demais. Eu acho que aqui eu reencontrei uma coisa que já existia dentro de mim, por causa do meu pai, pois ele era uma pessoa de cultura mista, então quando eu entrei, vi coisas que eu não estranhei nenhum pouco”.

Segundo o flautista, professor e pesquisador Raul Costa d’Avila, autor de uma tese sobre a pedagogia de Odette, defendida no Programa de Pós Graduação em Música da Escola de Música da UFBA:
“Odette cresceu em um período histórico difícil, cercada pelos horrores da guerra, obrigada a conviver diariamente com a tragédia”. Apesar disso, fazendo uma retrospectiva sobre sua vida, Odette declara:
‘hoje eu sei, olhando o passado com uma visão mais distante e ampla, e olhando o presente, que o homem nunca deve se acostumar à violência e à repressão’.

Costa d’Avila ressalta que mesmo sendo criada em um ambiente social muito duro, sua educação não foi repressora, pois seu ambiente doméstico se conservou livre de qualquer preconceito racial, religioso, cultural e nacional. Odette considera que a coisa mais preciosa que herdou de seus pais:
“foi à necessidade de lutar contra qualquer tipo de preconceito e opressão”.
Em várias entrevistas Odette ressalta as qualidades do pai, o colocando, antes de tudo, como um educador, dando ênfase ao ensino da música e do esporte com grande preocupação com a saúde, incluindo medicina natural, yoga, exercícios de respiração, higiene, cuidados corporais e alimentação.
De 1974 a 1994, Odette residiu em Brasília, fez parte do corpo docente da Universidade de Brasília (UnB), titular por notório saber, atuando como professora de Flauta, Estética e Musicologia. Empreendendo em várias frentes pedagógicas e performáticas pelo mundo.

Francesa de nascimento, Odette, prestes há completar 92 anos, ainda possui o sotaque carregado da língua de origem, e, continua atuando em pesquisas sobre a formação da música brasileira. Suas pesquisas resultaram em diversos discos gravados (Sarau Brasileiro, História da Flauta Brasileira, Afinidades Brasileiras – M. A. Reichert, Modinhas sem Palavras, entre vários outros) além de artigos, livros publicados, participação em congressos especializados e recitais no Brasil e exterior.
Uma de suas produções mais recentes foi o CD “Ondas Reflexas”, em parceria com seu neto, Lourenço Vasconcelos, tocando vibrafone.

Ainda conforme o flautista e pesquisador Costa d’Avila: “Em um lampejo poético Odette traça um paralelo de sua vida com os movimentos de uma sinfonia, deixando transparecer que, em cada fase de sua vida, é notório como as influências do meio foram marcantes, definindo parte de suas atitudes como ser humano, artista e professora. A este respeito ela diz”:
‘Eu dividiria minha vida em quatro fases, como se fossem quatro movimentos de uma sinfonia.
I. Paris – infância, aprendizagem – tradição: Prelúdio.
II . Rio de Janeiro – entrar na vida- pessoal e profissional – atividades múltiplas Allegro.
III. Brasília – despojamento, nudez – céu aberto – horizonte, contemplação – produção nova – Adágio.
IV. Rio de Janeiro – volta – decantação procura da essencialidade – deixar a carga, o passado para trás Alegria Allegro Stretto final’.
O “furacão de emoções”, Odette, encanta com sua flauta e sua personalidade todos à sua volta. Aposentar? Nem pensar!
“O horizonte recua sempre, quanto mais se caminha.[…]” Odette Ernest DIAS, 2008

Ouviremos de Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) Melodia Sentimental com Odette Ernest Dias, Andrea Ernest Dias, Ruy Quaresma, e Raimundo Nicioli.
Observe a emoção e a beleza dessa interpretação de Melodia Sentimetal.
*Depois, deixe seu comentário e vamos papear também nas Redes sociais!
Belo texto sobre a dama da flauta no Brasil. A escolha da música também foi ótima.
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muito obrigada! Vindo de um flautista, tão queido, fico ainda mais lisonjeada.
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Olá, Gyovana! Parabéns pela matéria sobre a mamãe! Parabéns também ao Raul, dedicado pesquisador! Muito obrigada, um grande abraço para você!
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Que honra receber o seu comentário cara Beth! A vida de sua mãe é inspiradora. Em tempos tão difícies é muito bom poder falar de amor à música. Bravo para você e para toda sua linda família!
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Muito interessante! A música escolhida é maravilhosa. Parabéns!👏👏👏👏👏
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