“Devo prestar uma homenagem ao povo goiano que, acolheu-me como filho adotivo, permitiu que eu desfrutasse aqui do convício de sincero amor pela música brasileira”

Camargo Guarnieri (1907 – 1993)
Agraciado com o prêmio “Gabriela Mistral”, pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, como “Maior Compositor Contemporâneo das Três Américas”, Camargo Guarnieri é considerado, ao lado de Villa-Lobos, um dos maiores compositores do Brasil.
Filho de músicos recebeu o nome de Mozart Camargo Guarnieri. Nascido em Tietê-SP, iniciou seus estudos musicais aos 10 anos com Virgínio Dias, a quem dedicou sua primeira obra. No entanto, foi após o acontecimento da Semana de Arte Moderna que Guarnieri começou a compor regularmente.
Guarnieri representa a concretização musical do nacionalismo modernista. Suas relações com as ideias modernistas, e particularmente com Mário de Andrade, têm características relevantes para música brasileira. Mário de Andrade (1893-1945) e Lamberto Baldi (1895-1979) foram os responsáveis pela formação do então jovem compositor. Baldi trabalhava os aspectos técnicos musicais enquanto Mário de Andrade o orientava em estética e cultura geral.

Mário de Andrade, Lamberto Baldi e Camargo Guarnier
“Devo toda a minha formação humanitária a Mário de Andrade. Ele foi meu exemplo de caráter, honestidade e bondade”. Camargo Guarnieri
O nacionalismo, traço marcante na obra de Guarnieri, não consiste em citar melodias folclóricas nem empregar elementos folclóricos não modificados, ele escreve uma música brasileira, de forma intelectual e criativa.
Segundo o Professor Wolney Unes:
“ Não foi antes de Guarnieri que a produção musical erudita nacional atingiu plena maturidade. O compositor paulista soube como nenhum outro no Brasil dar universalidade à linguagem musical, sem perder de vista as fontes nacionais nem sua marca pessoal, peculiaríssima (…)”.
Onde entra a cidade de Goiânia na vida do eminente compositor?
Segundo uma de suas biógrafas, a goiana Consuelo Quireze Rosa, seu primeiro contato com a Universidade Federal de Goiás se deu nos anos sessenta.
Guarnieri veio a primeira vez em Goiânia, após convite, da então aluna Glacy Antunes de Oliveira, para que o compositor fosse paraninfo da turma de formandas de Piano do Conservatório Goiano de Música.
A partir desta data, inicia-se a estreita relação de Camargo Guarnieri e a cidade.
O compositor paulista passa a integrar o corpo docente do Conservatório Goiano de Música e a conviver intimamente com a comunidade. Aqui fez amigos, compartilhou ideias e influenciou a vida musical. Foi muito amado e homenageado em Goiânia.

Camargo Guarnieri e Belkiss S. Carneiro de Mendonça
O maestro, por sua vez, retribuiu dedicando obras a vários goianos como as alunas, Flávia Cruz e Mônica Rassi, às musicistas: Glacy Antunes, Wanda Amorim, Consuelo Rosa, Custódia Annunziata, Maria Lúcia Roriz, Celina Szrvinsk , Mercia Mendonça, Ângela Barra, Maria Stela Cunha, Maria Lucy Teixeira, Wanda Goldfeld, Elciene Oliveira, Tânia Póvoa. A vice-diretora da Escola de Música, à época, Raulice Bahia e a saudosa e grande divulgadora da obra de Guarnieri, Belkiss Spencieri Carneiro de Mendonça.

Tânia Póvoa, Belkiss Carneiro de Mendonça e Maria Lucy Teixeira
Em 1987, Camargo Guarnieri, por indicação do Maestro Norton Morozowicz, recebeu da Universidade Federal de Goiás o importante título de Doutor honoris causa e assim se pronunciou:
“Devo prestar uma homenagem ao povo goiano que, acolheu-me como filho adotivo, permitiu que eu desfrutasse aqui do convício de sincero amor pela música brasileira”.
Guarnieri muito contribuiu para a literatura pianística. Para piano solo compôs: Ponteios, Valsas, Momentos Musicais, Improvisos, Sonatas, Sonatinas, dentre outras. Aqui destacamos os 20 Estudos para piano. Assim como os estudos de Chopin, os estudos de Guarnieri apresentam dificuldades técnicas e interpretativas diversas. Os vinte estudos foram compostos entre os anos de 1949 e 1987, sendo quatro dos vinte, dedicados a pianistas goianas, a saber, o de número 13 à Wanda Fleury; o número 14 à Belkiss Carneiro de Mendonça; o número 15 à Consuelo Quirese e o número 18 à Glacy Antunes.
Observe a textura polifônica trabalhada por Guarnieri neste conjunto de obras.
Ouviremos, os 20 estudos de Guarnieri, interpretado pelo pianista estadunidense Frederick Moyer (1957).
Boa audição!
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