CAMARGO GUARNIERI E A CIDADE DE GOIÂNIA

 “Devo prestar uma homenagem ao povo goiano que, acolheu-me como filho adotivo, permitiu que eu desfrutasse aqui do convício de sincero amor pela música brasileira”



Camargo Guarnieri (1907 – 1
993)

Agraciado com o prêmio “Gabriela Mistral”, pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em  Washington, como “Maior Compositor Contemporâneo das Três Américas”,  Camargo Guarnieri é considerado, ao lado de Villa-Lobos,  um dos maiores compositores do Brasil.

Filho de músicos recebeu o nome de Mozart Camargo Guarnieri.  Nascido em Tietê-SP,  iniciou seus estudos musicais aos 10 anos com Virgínio Dias, a quem dedicou sua primeira obra. No entanto, foi após o acontecimento da Semana de Arte Moderna que Guarnieri começou a compor regularmente. 

Guarnieri representa a concretização musical do nacionalismo modernista. Suas relações com as ideias modernistas, e particularmente com Mário de Andrade, têm características relevantes para música brasileira. Mário de Andrade (1893-1945) e Lamberto Baldi (1895-1979) foram os responsáveis pela formação do então jovem compositor.  Baldi trabalhava os aspectos técnicos musicais enquanto Mário de Andrade o orientava em estética e cultura geral.



Mário de Andrade,  Lamberto Baldi  e Camargo Guarni
er

“Devo toda a minha formação humanitária a Mário de Andrade. Ele foi meu exemplo de caráter, honestidade e bondade”.  Camargo Guarnieri

O nacionalismo, traço marcante na obra de Guarnieri, não consiste em citar melodias folclóricas nem empregar elementos folclóricos não modificados, ele escreve uma música brasileira, de forma intelectual e criativa. 

Segundo o Professor Wolney Unes:

“ Não foi antes de Guarnieri que a produção musical erudita nacional atingiu plena maturidade. O compositor paulista soube como nenhum outro no Brasil dar universalidade à linguagem musical, sem perder de vista as fontes nacionais nem sua marca pessoal, peculiaríssima (…)”. 

Onde entra a cidade de Goiânia na vida do eminente compositor?

Segundo uma de suas biógrafas, a goiana Consuelo Quireze Rosa, seu primeiro contato com a Universidade Federal de Goiás se deu nos anos sessenta.

Guarnieri veio a primeira vez em Goiânia,  após convite, da então aluna Glacy Antunes de Oliveira, para que o compositor fosse paraninfo da turma de formandas  de Piano do Conservatório Goiano de Música.

A partir desta data, inicia-se a estreita relação de Camargo Guarnieri e a cidade.

O compositor paulista passa a integrar o corpo docente do Conservatório Goiano de Música e a conviver intimamente com a comunidade. Aqui fez amigos, compartilhou ideias e influenciou a vida musical.  Foi muito amado e homenageado em Goiânia. 


Camargo Guarnieri e Belkiss S. Carneiro de Mendonça

O maestro, por sua vez, retribuiu dedicando obras a vários goianos como as alunas, Flávia Cruz e Mônica Rassi, às musicistas: Glacy Antunes,  Wanda Amorim,  Consuelo Rosa, Custódia Annunziata, Maria Lúcia Roriz, Celina Szrvinsk , Mercia Mendonça, Ângela Barra, Maria Stela Cunha, Maria Lucy Teixeira, Wanda Goldfeld, Elciene Oliveira, Tânia Póvoa. A vice-diretora da Escola de Música, à época, Raulice Bahia   e  a saudosa e grande divulgadora da obra de Guarnieri, Belkiss  Spencieri Carneiro de Mendonça. 


Tânia Póvoa, Belkiss  Carneiro de Mendonça e Maria Lucy Teixeira

Em 1987, Camargo Guarnieri, por indicação do Maestro Norton Morozowicz,  recebeu da Universidade Federal de Goiás o importante  título de Doutor honoris causa e assim se pronunciou:

“Devo prestar uma homenagem ao povo goiano que, acolheu-me como filho adotivo, permitiu que eu desfrutasse aqui do convício de sincero amor pela música brasileira”. 

Guarnieri muito contribuiu para a literatura pianística. Para piano solo compôs: Ponteios, Valsas, Momentos Musicais, Improvisos, Sonatas, Sonatinas, dentre outras.  Aqui destacamos os 20 Estudos para piano. Assim como os estudos de Chopin, os estudos de Guarnieri apresentam dificuldades técnicas e interpretativas diversas. Os vinte estudos foram compostos entre os anos de 1949 e 1987, sendo quatro dos vinte, dedicados a pianistas goianas, a saber, o de número 13 à Wanda Fleury; o número 14 à Belkiss Carneiro de Mendonça; o número  15 à Consuelo Quirese e o número  18 à Glacy Antunes. 

Observe a textura polifônica trabalhada por Guarnieri neste conjunto de obras.

Ouviremos, os 20 estudos de Guarnieri, interpretado pelo pianista estadunidense Frederick Moyer (1957).

Boa audição!

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“QUADROS DE UMA EXPOSIÇÃO”

Composta por Modest Mussorgsky,  em junho de 1874, após visita a uma galeria de arte em São Petersburgo que exibia obras de Viktor Hartmann.

Modest Mussorgsky  (1839-1881)

O isolamento social nos leva a refletir sobre o quanto faz falta viajar, assistir concertos, entrar em uma bela galeria de arte.

Enquanto vivemos em clausura, podemos nos deliciar com “Quadros de uma Exposição” do compositor russo Modest Mussorgsky. 

Embora tenha sido um compositor eminentemente dramático, Mussorgsky realizou em “Quadros de uma exposição” uma obra-prima que sintetiza elementos poéticos, realísticos e humorísticos e se destaca pela originalidade de suas melodias.

“Quadros de uma Exposição” foi composta em junho de 1874, para piano,  após visita a uma galeria de arte em São Petersburgo que exibia obras de Viktor Hartmann (1834-1873), seu amigo, que era arquiteto e pintor e acabara de falecer. 



Viktor Hartmann (1834-1873)

Com o intuito de prestar homenagem ao dileto amigo, Mussorgsky, escolheu dez dentre os quadros expostos e compôs uma música para cada um deles, unindo-os através de um tema comum denominado “Promenade”.  “Quadros de uma Exposição”, como o próprio nome sugere, descreve um passeio em uma exposição de quadros através de metáforas utilizando as notas musicais.

Segundo Mussorgsky, seu desejo era:

“ ligar sua arte o mais estreitamente possível à vida, sobretudo a das massas russas, nutri-las dos acontecimentos cotidianos e emprega-las como um meio de comunicação de uma experiência humana”.




Quadros da  Exposição de Viktor Hartmann

A suíte do compositor russo foi durante anos  ignorada. O responsável pelo seu emergir, foi seu admirador confesso, Claude Debussy (1862-1918). Posteriormente a este ressurgimento, “Quadros de uma Exposição” recebeu inúmeros arranjos, sendo a versão mais famosa a de Maurice Ravel (1875-1937).

Ravel, ao orquestrar a obra do compositor russo, em 1922, quarenta e um anos após a morte de Mussorgsky, torna a obra mais popular.  Com o seu apurado dom orquestral, Ravel, soube extrair da obra a dosagem necessária dos instrumentos e criar sonoridades instrumentais precisas, dentro do espírito dos temas.

Em 1971, a banda de rock progressivo britânica formada por Keith Emerson, Greg Lake e Carl Palmer – “Emerson Lake and Palmer”, famosa por mesclar música erudita e rock, gravou, em um disco ao vivo, uma versão de rock da obra de Mussorgsky.

Ouviremos a versão original do compositor, interpretado pelo pianista israelense-canadense Tzvi Erez (1968). Anexado ao áudio há a apresentação dos quadros da exposição. Ao menos virtualmente, vamos apreciar a música de Mussorgsky e os quadros de Viktor Hartmann.

Observe a harmonia excêntrica e a originalidade da obra de Mussorgsky.

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MARIA CALLAS – UMA CARREIRA CHEIA DE EMOÇÕES

Sua voz tinha um timbre único e emblemático, que a transformaram na maior soprano da história do estilo lírico e na mais famosa intérprete operística do século XX


Maria Callas (1923-1977)

Batizada como Cecilia Sofia Anna Maria Kalogeropoulou, nasceu no seio de uma família grega, na cidade de Nova Iorque, no dia 2 de dezembro de 1923. Sua vida pessoal controvertida a popularizou, mas foi seu talento e seu trabalho incansável no sentido de desenvolver uma nova forma de interpretar as criações operísticas que a tornaram a grande diva. Sua voz tinha um timbre único e emblemático, que a transformaram na maior soprano da história do estilo lírico e na mais famosa intérprete operística do século XX.

Segundo seus biógrafos, a vida de Maria Callas foi, desde a infância, semelhando à ópera trágica.  Começou a ficar a famosa na Grécia, para onde retornou com sua mãe no final dos anos 30 por causa da crise financeira que abateu a família. Com uma voz impressionante desde criança, o pai e mãe praticamente a obrigaram a seguir essa carreira, privando-a de uma educação formal. Foram vários relatos em que Callas demonstrava sua mágoa em relação à família.

Sua entrada na Itália se deu em 1947, na cidade de Verona, onde interpretou La Gioconda, sob a direção do maestro Tullio Sefarin (1878 – 1968), que a partir de então se tornou seu mestre na música. Seu sucesso se espalhou por todo o país e ela subiu aos palcos do famoso teatro La Scala de Milão.


La Scala de Milão

O emergir do fenômeno Callas no cenário lírico se deu por volta de 1948 ao interpretar notavelmente a protagonista da ópera Norma de Vicenzo Bellini (1801-1835) em Florença. Todavia, sua carreira só viria a projetar-se mundialmente em 1949, quando a cantora surpreendeu crítica e público ao alternar, na mesma semana, récitas tão distintas como de I Puritani, de Bellini(1801-1835), e Die Walküre, de Richard Wagner (1813-1883).

Ainda em 1949 Callas casa-se com o empresário italiano Giovanni Battista Menegghini (1896 – 1981), Intensamente geniosa, Maria Callas encontrava em sua vida íntima a mesma dramaticidade que revelava nos palcos. Não era fácil a convivência com o marido, nem com maestros e companheiros de trabalho. 


Maria Callas e Menegghini

Foi na década de 50 que Callas interpretou as performances femininas mais significativas da história da ópera. Era uma cantora incrivelmente dedicada a evoluir profissionalmente, e se recusava a ser um clichê operístico. No auge da carreira foi demitida do Metropolitan por não concordar com as peças repetitivas que o diretor queria lhe impor para a temporada seguinte.


Eu quero evoluir como cantora, mas ele quer só ganhar dinheiro. E com minha voz”,

Ao retornar anos depois ao Met, foi aplaudida de pé mesmo antes da apresentação.

Após separa-se de Manegghini, Maria vive uma forte paixão ao lado do grego afortunado Aristoteles Onassis (1906 – 1975), junto a quem viveu uma conturbada relação amorosa com enorme repercussão sensacionalista na mídia. Onassis deixa Callas para casar-se com Jacqueline Kennedy (1929 – 1994).


Maria Callas e Onassis

Sua vida desabou no momento em que descobriu que o grande amor de sua vida a estava traindo com a viúva do presidente Kennedy.

Maria Callas  morreu em Paris, aos 53 anos, dois anos depois da morte de Onassis.

Impossível descrever a cantora em um post. É preciso ouvir aquela voz, saboreá-la, especialmente em suas apresentações entre 1950 e 1965.

No vídeo de 1962, Callas interpreta “Habanera” da ópera Carmen do francês Georges Bizet (1838 – 187)) no Royal Opera House de Londres, sob a regência do maestro Georges Prêtre (1924 – 2017).

Observe a grandiosidade de Habanera, nome popular de “L’amour est un oiseau rebelle”, ária de entrada do personagem Carmen que Callas interpreta com maestria.

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OS 250 ANOS DE BEETHOVEN

Em todas as partes do mundo, orquestras e outras instituições culturais, preparam-se para celebrar, depois do controle da COVID – 19 um dos mais importantes nomes da produção artística de todos os tempos
Ludwig van Beethoven


Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)

O ano de 2020 comemora-se o 250° aniversário do nascimento de Ludwig van Beethoven (1770 – 1827), mas afetada pela COVID – 19, a humanidade está confinada em suas casas e as salas de espetáculo fechadas e em silêncio.

Como homenagear a obra de um compositor sem música ao vivo? O ano que prometia inúmeros concertos pelo mundo está à espera de dias melhores para as comemorações dos 250 anos de Beethoven e a retorno da música de concerto ao vivo.

Considerado um dos pilares da música ocidental, Beethoven é, sem dúvida, o Pop Star dos compositores chamados “eruditos”. Suas obras são mais executadas do que as de qualquer outro músico clássico. Suas Sinfonias e Sonatas estão no ouvido das pessoas que nem sabem que o admiram.

O compositor alemão tinha um gênio difícil, gradativamente agravado pela perda da audição. Ludwig morreu completamente surdo, apesar disto, ajudou a criar o mito do “artista como herói” e é considerado um patrimônio de toda a humanidade.

Beethoven foi um dos primeiros compositores da história a buscar independência, tanto das regras composicionais como enquanto indivíduo criativo. Em cada forma musical em que ele atuou, conseguiu não somente solidificar as tradições do passado, como propor transformações estruturais e semânticas que influenciaram as gerações posteriores em todos os níveis estéticos.

“O resumo de sua obra é a liberdade – a liberdade política, a liberdade artística do indivíduo, sua liberdade de escolha, de credo e a liberdade individual em todos os aspectos da vida”.

Paul Bekker(1882-1937)

Sim, Beethoven via na música a expressão maior da liberdade! Ele foi mesmo gigante! Em todas as partes do mundo, orquestras e outras instituições culturais, preparam-se para celebrar, depois do controle da COVID – 19, um dos mais importantes nomes da produção artística de todos os tempos.

O título da Terceira Sinfonia tem uma história interessante: foi primeiramente dedicada a Napoleão Bonaparte (1769 – 1821). A simpatia de Beethoven pelos princípios humanitários da Revolução Francesa era profunda, e o compositor via então em Bonaparte o verdadeiro representante desses ideais. Quando Napoleão se autoproclamou imperador, Beethoven, decepcionado e enfurecido, rasurou a dedicatória substituindo por Sinfonia Heroica.



Coroação de Napoleão Bonaparte, 1807
Jacques Louis David
10m X 6m
Museu do Louvre, Paris
 

Observe o uso de maciços blocos sonoros, realizados através da separação dos timbres, muito comum na obra de Beethoven.

A terceira Sinfonia possui quatro movimentos – 1. Allegro con brio;  2. Marcia funebre: Adagio assai; 3. Scherzo (Allegro); 4. Finale: Allegro molto – Poco andante – Presto. Encontramos a desesperança expressa na Marcha Fúnebre do segundo movimento e o otimismo contagiante de seu Finale.

 Fiquemos com o otimismo de dias melhores do movimento final de Beethoven.

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PRINCESA LEOPOLDINA – “A MÃE DOS BRASILEIROS”

Muito além de uma princesa acanhada e melancólica, Leopoldina teve grande destaque na cultura e na política brasileira. Culta, preparada e caridosa, a princesa austríaca foi amada principalmente pelos pobres e escravos do Brasil. Era chamada
A Mãe dos brasileiros”


Retrato de Dona Leopoldina de Habsburgo e seus filhos, 1921
Domenico Failutti, 1921
Óleo sobre tela 233 x 133 cm
São Paulo, Museu Paulista

Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena (1797-1826) a nossa princesa Leopoldina, nasceu em Viena, descente de uma das mais antigas dinastias da Europa  – A Casa de Habsburgo –  Leopoldina recebeu educação esmerada na qual incluía o estudo sério da música.O compositor  Franz Schubert (1797 – 1828) era amigo de sua família e frequentador assíduo do Palácio de Schönbrunn onde a princesa residia na Áustria.

Das princesas normalmente não se exigia muito, elas deveriam aprender além de bons modos, bordar e tocar um pouco de piano. Porém, na casa dos Habsburgos, as mulheres deviam aprender muito mais, possuindo um nível cultural elevado, submetidas, desde a infância, a um programa intensivo de aulas diárias,  adquirindo conhecimentos científicos, políticos, históricos e artísticos.

O responsável pela formação musical de Leopoldina, na Áustria, foi o compositor nascido na Boêmia (atual República Tcheca), Leopold Koželuh (1747-1818). Além de ser professor de música de Leopoldina, Koželuh conviveu intensamente com a princesa, conforme ela própria narrou por cartas à irmã Maria Luiza:

 “Na ultima sexta-feira toquei um concerto de Koželuh, que saiu muito bom, […] dezessete músicos me acompanharam e eu tremia como vara verde. […]”. (KANN, 2006, p. 191).

Aos vinte anos a princesa Leopoldina casou-se com Pedro de Alcântara (1798-1834), futuro dom Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal. Naquela época, o casamento entre nobres significava um tratado de relações exteriores, na realidade visando interesses políticos e econômicos entre os países envolvidos.

Leopoldina, ao se casar por procuração com o Príncipe dom Pedro I,  não sabia muito bem o que a esperava no Novo Mundo, a princesa trouxe então  para o Brasil além de grande comitiva composta de pintores, cientistas e botânicos europeus, um grande acervo de partituras, na qual inclui as obras do professor Koželuh.

Muito amada pelos brasileiros, Leopoldina  viveu, no Rio de Janeiro,  em uma corte pobre e repleta de problemas. Culta, preparada e caridosa, a princesa austríaca foi amada principalmente pelos pobres e escravos do Brasil. Era chamada “A Mãe dos brasileiros, e, embora  tenha sido retratada até pouco tempo, como uma mulher melancólica e humilhada com os escândalos e relações extraconjugais do príncipe, a historiografia mais recente,  têm reivindicado a Maria Leopoldina uma imagem menos passiva na história nacional.

Muito além de uma princesa acanhada e melancólica, Leopoldina teve grande destaque na cultura e na política brasileira. É considerada, atualmente, como a primeira mulher a governar o Brasil. Era Leopoldina quem estava no poder no Rio de Janeiro quando dom Pedro proclamou a Independência às margens do Rio Ipiranga, em São Paulo.

O gosto pela música tanto dela como do marido Pedro foi o primeiro elo de interesse do casal. Com educações tão diferentes, a Sala de Música,  tornou-se  um ambiente muito utilizado para o convívio do príncipe e da princesa.


Hino da Independência (1922)
Augusto Bracet
Óleo sobre tela 2500x 1900 cm
Rio de Janeiro, Museu Histórico Nacional

Ao levar para o Brasil seu acervo de partituras, e praticar estas obras em terras brasileiras, a Princesa Leopoldina contribuiu fortemente para a mudança da forma de compor de compositores que viveram e ou nasceram no Brasil deste tempo histórico.

Para ilustrar a vida musical da princesa, ouviremos de Leopold  Koželuh  o Concerto n. 1 em Fá Maior  para piano e orquestra interpretado pela pianista Tomas Dratva,  com a Slovak Sinfonietta Žilin da Eslováquia, regido pelo maestro  Oliver von Dohnanyi.

Observe  no concerto para piano  e orquestra de Leopold  Koželuch a personificação do clássico vienense, caracterizado pela leveza e elegância do som e a clareza formal de sua estrutura composicional.  

Boa audição!

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O BOLERO DE RAVEL EM TEMPOS DE COVID – 19

Uma das obras mais populares do grande público é o Bolero de Ravel. Com o objetivo de enviar aos amantes da música a mensagem FIQUE EM CASA – “ NÓS AINDA ESTAMOS AQUI POR VOCÊS” músicos da Orquestra Nacional da França se uniram,  cada um em sua casa, para interpretar a afamada  obra do compositor francês.

MAURICE RAVEL(1875 – 1937)

 

Em tempos de pandemia, várias são as ações realizadas no sentido de levar música ao ouvinte sem sair de casa.  O uso da tecnologia digital permitiu com que fosse realizada essa gravação com músicos da Orquestra Nacional da França – cada um em sua casa –  tocando juntos em um vídeo disponibilizado em redes sociais.

A obra escolhida por esses  músicos –  Bolero de Ravel  foi escrito originalmente para Ballet em um único movimento.  A composição foi encomendada e financiada pela bailarina Ida Rubinsntein (1885 – 1960). O Ballet teve sua estreia na Ópera de Paris no mesmo ano em que foi composta, 1928.

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IDA RUBINSNTEIN (1885 – 1960) 

Ravel nasceu em 7 de março de 1875 na cidade de Ciboure na França ingressando no Conservatório de Paris apenas aos 14 anos de idade.  Durante anos Ravel se preparou para concorrer a um evento que consagrava novos talentos, o Grande Prêmio de Música de Roma. O francês, considerado um dos favoritos à conquista em 1900, sofreu sua maior decepção ao ser derrotado, fato que marcou a personalidade do compositor, tornando-o, desde então uma pessoa arredia, de temperamento acanhado e que não frequentava eventos sociais, preferindo sempre dedicar-se ao labor musical.

Ravel compôs obras magistrais, sendo um dos grandes compositores da história da música, no entanto o fim de sua vida não foi fácil, debilitado,  em razão de lesões no cérebro, veio a falecer, em Paris, em 28 de dezembro de 1937. 

Curiosamente, o famoso Bolero foi considerado por Ravel, um simples estudo de orquestração, e o surpreendia a popularidade da peça. Ainda hoje é a obra musical francesa mais tocada no mundo.

A apresentação da orquestra que ouviremos a seguir  começa com três instrumentos: violoncelo, violino e percussão. Depois entra a flauta, os oboés, assim por diante, até totalizarem 50 instrumentistas.

Observe o ritmo invariável e a melodia uniforme e repetitiva que dão a sensação de mudança através dos efeitos da dinâmica. Não é por acaso que esta é uma das obras mais famosas do planeta.

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“NUEVO TANGO”

Piazzolla incorporou elementos de jazz à sua música, criando as primeiras referências de um “nuevo tango”, verdadeira revolução na música argentina encontrando, na época, hostilidade de críticos e plateia.

ASTOR PIAZZOLLA (1921 – 1992)

O compositor e bandoneonista argentino Astor Piazzolla (1921 – 1992) viveu com a família em Nova York, estudou na Argentina com Alberto Ginastera (1916 – 1983) e em Paris com Nádia Boulanger (1887 – 1979). Piazzolla incorporou elementos de jazz à sua música, criando as primeiras referências de um “nuevo tango”, verdadeira revolução na música argentina encontrando, na época, hostilidade de críticos e plateia.

Embora tenha sido reverenciado no campo da música popular; do jazz; da música sinfônica, durante muito tempo, sofreu críticas principalmente na Argentina. A razão destas críticas se deve à Piazzolla ter inovado justamente no Tango, gênero que tinha recebido o “status” de referência da nacionalidade local, uma identidade argentina, e que, portanto, para muitos, deveria ser intocado.

Foi longe da Argentina, entre Nova York, Paris e Milão que Piazzolla absorveu as influências do impressionismo francês, do contemporâneo atonal e o improviso do jazz para incorporá-las na língua harmónica do “novo tango” criando suas primeiras obras-primas, sendo reconhecido em todo o planeta com um grande compositor.

Hoje a Argentina também o reconhece como herói. Atualmente o Centro Astor Piazzolla, em Buenos Aires, fundado em 1995, é voltado para a divulgação e promoção de sua obra.


BANDONEÓN DE ASTOR PIAZZOLLA – CENTRO CULTURAL NÉSTOR KIRCHENER, BUENOS AIRES, ARGENTINA

Veja como o tango é denso, dramático e emocionante. Apesar de poucos acordes em sua harmonia, o tema é extremamente inspirado e envolvente, com um ritmo forte e marcante.  Observe uma obra regada de requinte erudito, tradição, transgressão e  flexibilidade. É mesmo extraordinário!

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A espontaneidade e originalidade da musa do piano

De todas as características da performance de Yuja Wang, o que mais chama a atenção da crítica é o equilíbrio entre o domínio técnico e a musicalidade fora do comum.

YUJA WANG (1987)
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A chinesa Yuja Wang (1987) é uma espécie de “estrela pop” do piano que, com sua espontaneidade e originalidade vem trazendo milhões de seguidores para o mundo da música de concerto.

Em 2017 a pianista deslanchou sua carreira internacional de sucesso ao receber um convite para substituir nada menos do que Martha Argerich (1941), uma das mais célebres pianistas do mundo, no Symphony Hall, em Boston. A jovem chinesa foi ovacionada pelo público e pela crítica local. “Uma performance com virtuosismo e equilíbrio impressionantes”, definiu o jornal The Boston Globe.

Wang iniciou seus estudos de piano em Pequim, sua cidade natal, no início dos anos noventa, numa época em que a difusão da música de concerto ocidental começava a se intensificar na China. Desencorajada por um professor a tocar o instrumento por ter mãos “pequenas, fracas e frágeis”. Yuja passou por cima das adversidades e aos quinze anos foi de Pequim para Nova York estudar no Conservatório Curtis Institute of Music, na Filadélfia.

Atualmente, além de contrato de gravação com a prestigiada Deutsche Grammophon, a “diva do piano mundial” está na lista de artistas apoiados pela Rolex sendo embaixadora da marca de relógios. Yuja Wang possuía, antes da pandemia, uma agenda completamente lotada de concertos nos principais palcos do mundo, incluindo o Brasil.

Há vários vídeos no you tube da pianista que valem a pena serem assistidos.

A escolha da semana é Noites nos jardins da Espanha, do compositor Manuel de Falla (1876-1946) com a Orquestra Sinfônica NHK, sob a regência do maestro suíço Charles Dutoit (1936) e a solista Yuja Wang, gravado em Tokyo, Japão em dezembro de 2014.

Observe sua técnica precisa e limpa. Com beleza, elegância extravagante e talento fenomenal, não é a toa que Yuja Wang tem movimentado o mundo do piano ao redor do planeta.

 

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O Impressionismo na Música

Baseando-se na insinuação, o impressionismo, usou de uma linguagem completamente diferente daquela a que os românticos estavam acostumados.
IMPRESSÃO, NASCER DO SOL (1872), CLAUDE MONET, ÓLEO SOBRE TELA 48X63 CM, MUSEU MAARMOTTAN MONET.

Em momento tão delicado para o mundo olhamos hoje para à França, e, lembramos um de seus grandes legados – O IMPRESSIONISMO. Claude Monet (1840-1926) foi um dos principais organizadores da primeira mostra da que seria conhecida como arte impressionista. A exposição organizada pela “Sociedade Anônima de Pintores, Escultores e Gravadores” era composta, entre outros, por Auguste Renoir (1841-1919), Camille Pissarro (1830-1903) e Paul Cézanne (1839-1906).

Foi o crítico Louis Leroy quem primeiro fez uso do termo “impressionismo”, referindo-se ao título do quadro de Claude Monet, Impressão, nascer do sol. Com caráter negativo e pejorativo, o crítico afirmava: “um papel de parede é mais elaborado do que essa cena marinha”.

As principais características da pintura impressionista são as figuras sem contornos nítidos, as sombras luminosas, as pinceladas fortes e o registro das tonalidades da luz no momento em que a obra estava sendo pintada.

Na música, o impressionismo, apresenta uma ampla gama de possibilidades sonoras inovadoras. Exemplos de todas essas inovações podem ser encontrados na música para piano de Debussy (1862-1918) que, juntamente com Ravel (1875-1937), constituem o acréscimo mais importante feito na literatura pianística no início do séc. XX.

CLAUDE DEBUSSY (1862-1918)

O estilo impressionista aplicado à música objetivava evocar sentimentos, estados de espírito e impressões através da harmonia e cores tonais. Baseando-se na insinuação usou de uma linguagem completamente diferente daquela a que os românticos estavam acostumados.

Ouviremos o Etude Pour les arpèges composés para piano de C. Debussy interpretado pelo pianista brasileiro, especialista na obra de Debussy,  José Eduardo Martins (1938). Observe o timbre e a qualidade das proporções sonoras para entender o estilo do compositor.

 

Que tal ouvir a música e dar um passeio por um Museu repleto de Arte impressionista? Quase todos os Museus do planeta estão abertos gratuitamente para visitas digitais neste período de isolamento. Aproveitem!

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Chopin: Trajetória de um gênio

Obras do compositor polonês são recorrentes em trilhas sonoras de desenhos animados e conhecidas por grande público
Frédéric Chopin (1810-1849) deixou a Polônia aos 21 anos para morar em Paris, onde rapidamente encontrou fama e sucesso

Nestes tempos de reclusão, nada melhor do que buscar programas em família. Que tal ouvir Chopin ao assistir Pica-Pau? A obra do compositor polonês Frédéric Chopin é recorrente em trilhas sonoras para as aventuras de desenhos animados como Tom e Jerry e Pica-Pau.

Frédéric Chopin (1810 – 1849) começou a estudar música com apenas 4 anos. Ele demonstrou de imediato o grande talento musical. Iniciou a carreira de concertista ainda jovem, deixando a Polônia em um momento de instabilidade política.

Nessa época, milhares de pessoas foram exiladas e outras proibidas de voltar à pátria. As cartas que enviava à família não eram respondidas e, diante da situação, o músico, aos 21 anos, resolveu partir para Paris. Levou na bagagem composições e um amor inabalável por sua terra natal.

A caminho da França, Chopin passa pela Alemanha, onde encontra o compositor Robert Schumann (1810 – 1856). Contam que na primeira vez que visitou a residência do compositor ele não estava em casa. A esposa, Clara Schumann (1819 – 1896), o recebeu. Ela não falava francês, Chopin não falava alemão.

Diz a história que ele se sentou ao piano e tocou algumas de suas composições. Clara fez o mesmo com as músicas do marido. Se isto é lenda ou fato real, não sabemos. O que pode ser comprovado é a opinião de Schumann sobre Chopin registrada em artigo da Nova Gazeta Musical publicado na Alemanha: “Tirem os chapéus, senhores, um gênio”.

Em Paris, ele encontra rapidamente a fama e o sucesso. Chopin era um rapaz fino, elegante, gentil, possuindo assim todos os predicados para ser aceito na sociedade francesa. Foi logo adotado pela elite culta parisiense, requisitado como concertista e como professor.

Dar aulas para os jovens da sociedade fez com que conseguisse razoável conforto material nos primeiros anos parisienses. Levava uma vida sofisticada, em meio aos salões da aristocracia e às salas de concerto que começavam a aparecer. Conheceu músicos consagrados, como Rossini (1792– 1868) e outros de sua geração, como Mendelssohn (1809 – 1847), Berlioz (1803 – 1869) e o dileto amigo Liszt (1811 – 1886).

Infelizmente, sua saúde piorava dia a dia. Uma de suas irmãs já havia morrido de tuberculose, doença que também o vitimou e, em 17 de outubro de 1849, a “mal do século” o matou. No enterro, a seu pedido, o coração foi enviado para Varsóvia e o corpo enterrado em Paris e o caixão coberto por terra polonesa.

Vamos relembrar a infância ouvindo o compositor. Em 1947, o Estúdio de Walter Lantz fez uma homenagem à Frédéric Chopin com as obras: Heroic Polonaise em lá bemol maior, Opus 53; Fantasie Impromptu em do sustenido menor, Opus 66; Écossaise em ré maior, No. 2, Opus 72; Mazurka em si bemol maior, No. 1, Opus 7 e Scherzo si bemol maior, No. 2, Opus 31.

Observe bem, com certeza você conhece muitas destas obras para piano do compositor polonês.

Boa audição!

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